Algumas coisas deveriam ser revistas na lei do futebol. O advento da Lei Pelé foi um avanço considerável, mas ainda há algumas brechas enormes a serem administradas e que travam o melhor desenvolvimento do futebol brasileiro. A começar pela atuação da “Bancada da Bola” na Câmara Federal, disposta a impedir o melhor desenvolvimento da relação entre clubes e atletas – ainda com base nos velhos tempos de paternalismo e posse que imperavam na condução do esporte por essas bandas.
O Coritiba revelou um craque de bola, Raphael Veiga. Mas a falta de habilidade ou de traquejo dos cartolas coxas impediu a blindagem do atleta, que, logo após estourar como revelação, foi descoberto a descoberto (a repetição é proposital), pronto para seguir a qualquer novo endereço do futebol, nacional ou internacional.
Ingenuidade à flor da pele. Jamais a diretoria do clube poderia permitir a exposição de uma revelação do clube sem garantia de permanência por um tempo razoável. O Internacional fez isso com o paranaense Alexandre Pato, que matava a pau nas equipes de base, mas – embora tivesse condições para tal – jamais foi guindado ao time de cima enquanto não tivesse um lastro razoável de garantia, contrato assinado por alguns anos. E assim que assinou o compromisso, estreou no time profissional fazendo gol contra o Palmeiras para dali a pouco brilhar no Mundial de Clubes conquistado pelos colorados.
O Atlético, na contramão, penou com Dagoberto, embora já não fosse mais um menininho. Brigou em casa, assinou pré-contrato com o São Paulo e esperou o tempo passar, sem deixar de receber o compensador salário acordado. Nem ele nem o Atlético saíram felizes após o rompimento.
Voltemos a Raphael Veiga. Tem contrato em vigor com o Coritiba, mas não vem sendo escalado nas partidas mais recentes. Alegação: está com a cabeça no Palmeiras, não rende mais como antes. Será mesmo? Teve uma apresentação ruim, foi substituído e a torcida urrou nas arquibancadas, como se fosse o grande traidor da pátria. Não é, ninguém deu bola para ele até poucas semanas atrás. Veio um clube de fora e se interessou e por isso merece levar uma chuva de moedas? Como seria para qualquer um desses torcedores se recebesse uma proposta de trabalho tão compensadora? Mereceria vaias também?
É talentoso, diferenciado e deveria jogar. É a posição defendida pelo capitão Kléber – conforme publicado aqui na Gazeta do Povo– com a qual concordo inteiramente. Corpo mole, tiraria o pé? Não para um menino como ele, que tem no futebol o deslumbre de descobrir novas fronteiras e apostar no futuro.
O Coritiba tem dois importantes compromissos em casa, fundamentais para apagar qualquer chama de rebaixamento. E precisa de Raphael Veiga em ambos. Haveria despedida mais aplaudida ou festejada com bons resultados advindos de boas exibições de sua parte? Poderia ir embora – é assim o destino de qualquer um de nós, profissionais de alguma área –, mas certamente seria reverenciado a cada reencontro com a torcida alviverde.
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