Em tempos passados, quando a tristeza nos invadia (ditadura, inflação, guerras, atentados em Olimpíada, Guerra Fria...), o futebol era nosso lenitivo. Para alguns mais radicais era alienante – como se eles também não vibrassem com os gols de Pelé ou Jairzinho.
O futebol era o “ópio do povo”, como se dizia na época. Era a rota de fuga para os oprimidos pelos baixos salários e pelas más condições de vida. Fosse como fosse, sobrava um dinheirinho para o futebol no fim de semana. O que hoje seria inviável, pelos preços dos ingressos – em patamar de Scala de Milão com Pavarotti, como defende o presidente do Atlético.
Quando o país era tomado pela tristeza, a bola rolava e um novo cenário despontava. Não que encobrisse as mazelas e os desmandos (para muitos, sim), mas pelo menos amenizava aquela tortura de saber que havia muita coisa errada por aí, sem que houvesse o que fazer ao alcance do cidadão comum.
Hoje estamos vivendo também assim. Na desilusão com nossos governantes (federal e estadual) e na tristeza com o sofrimento de tanta gente, como consequência do descaso administrativo (Mariana) ou da irracionalidade de seres que se dizem humanos (Paris).
E nem temos, ao menos, o futebol para podermos desopilar, como em outros tempos. E aí, antes que alguém lance o rótulo de alienado ao colunista, a explicação: é o que o assunto aqui é o futebol, o esporte ou o que seja. Tenho filha que mora em Paris, tenho filho que mora em Minas e vivi grande apreensão nesses últimos dias. Mas como não estou aqui para falar de mim ou dos meus, apenas circulei por isso para tentar encaixar a relação nossa com o futebol.
E para lembrar que nem para atenuar a situação de tantos apreensivos cidadãos a seleção brasileira se presta. Não pelo que nos mostrou nas três primeiras partidas das eliminatórias, não pelo status que vive hoje, com uma comissão técnica de ideias retrógradas e sem nexo.
Sexta-feira, justamente quando Paris chorava as vítimas do ódio, a seleção brasileira tentava se impor contra uma Argentina sem metade de seus titulares de linha. E o que vimos foi um primeiro tempo massacrante, inconcebível para um futebol que, se não é mais o melhor há algum tempo, pelo menos conta com jogadores de bom quilate técnico, que, por incompetência do treinador, não conseguem reeditar no escrete apresentações próximas às que têm em seus clubes.
Amanhã tem o Peru, em casa, adversário teoricamente mais fácil. Mas será? Uma boa vitória bem que poderia amenizar o sofrimento dos acontecimentos dos últimos dias. Amenizar, jamais – pensando melhor. Nossa indignação e nosso espanto por tudo que acontece não podem ser diluídos assim, com um gol a mais.
Mas pelo menos poderíamos contar de novo com esse lado bom do futebol, que já nos largou há um bom tempo.
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