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Não consigo, sinceramente, entender os argumentos daqueles que defendem a realização de partidas com torcida única. É uma fórmula cômoda de se fugir da realidade dos nossos dias, da violência embutida em tantos de nós, pelos eriçados e armados para ofender um desafeto a qualquer momento.

Desafeto, no conceito de hoje, é qualquer pessoa que não concorda com nossos pensamentos ou não segue nossos preceitos. Maior prova é a insana avalanche de bobagens registradas em nossas redes sociais. Famílias estão se desfazendo, amizades de décadas estão sendo rompidas simplesmente porque um é contra e outro a favor do impeachment – por exemplo.

Não se argumenta mais, hoje se ofende, sem medir palavras. E se alguém de vermelho passar próximo a um grupo de amarelo, apanha. E vice-versa, sem meias medidas.

O Brasil vive hoje um grande confronto de torcidas, organizadas ou não, pregando a ira, o ódio e a falta de sensibilidade para os que pensam diferente. Se um ministro do Supremo dá uma sentença ou uma opinião, é aplaudido por uma ala e execrado por outra, por ter sido nomeado por este ou aquele governo. Como se magistrado, no exercício de suas funções, não pudesse ser isento simplesmente por ter sido advogado, lá atrás, desta ou daquela corrente.

Exatamente como no futebol, quando se analisa a opinião de um jornalista esportivo. A primeira pergunta que se faz é para saber o time para o qual torce. E a cada crítica o torcedor aposta fechado que torce para o outro clube, que não o dele. O coxa, por exemplo, pode achar atleticano o mesmo jornalista que o atleticano acha coxa. É assim, é regra.

E então, assim como nos dias atuais do país, o futebol já vem se tornando chato (e perigoso) fora de campo há algum tempo. Não existem mais rivais a serem gozados, existem inimigos a serem abatidos. E isso não tem nada a ver com o que ocorre nos estádios, o belicismo está espalhado pelas ruas e pontos de encontro da cidade ou de sua periferia.

Por isso, proibir a presença de duas torcidas no mesmo estádio é pura bobagem. Nessas praças, com bom policiamento, nada ocorre. O perigo está distante, em pontos de emboscada e conflitos organizados justamente por quem não vai aos jogos e prepara as ações paralelas justamente para caçar “inimigos”. Sei de um jornalista (não esportivo) que estava indo para o aeroporto em dia de clássico e seu carro, com um distintivo do clube para o qual torce, foi cercado por torcedores do outro time, apedrejado e só não teve mais porque ele acelerou, passou pela calçada e escapou. Lá longe do jogo, enquanto a bola ainda estava rolando.

O que funciona é punição e foi assim que os temidos hooligans ingleses foram extirpados. Mas aqui o sujeito é detido um dia, assina um termo circunstanciado, é liberado e dali uns dias está batendo, agredindo e matando, usufruindo de sua impunidade. Como de resto em tudo no Brasil.

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