Administração de vaidades. Com raríssimas (mas raríssimas mesmo) exceções o futebol – brasileiro, especialmente – é dirigido por pessoas que pensam primeiro em si e depois no que poderiam contribuir para o melhor do esporte, do clube ou da instituição que comandam.
Tudo começa com o torcedor mais assíduo que é convidado a se associar, daí a compor o conselho do clube e, com algum tempo, assume um cargo mais importante no conselho, estreitando as relações com o departamento de futebol, compartilhando hotel em algumas viagens e ganhando carona no ônibus da delegação até o estádio. É a glória poder conviver com alguns momentos de intimidade dos jogadores.
Mas eles começam a se salientar nos momentos de conquista. Ficam atrás do atleta entrevistado, com cara de paisagem e um celular ligado, contando para os amigos que está no ar, ao vivo, na tevê tal. Dali a pouco entram sem convidar na foto comemorativa do título, da qual deveriam participar apenas os jogadores e a comissão técnica. Mas como resistir à tentação?
O passo seguinte é pleitear um cargo na diretoria, de preferência ligado ao futebol – para poder dar umas cornetadas na escalação da equipe. Com o tempo ascende de posição, passa a comandar o futebol e chega à presidência do clube. Dali, na interação com a federação em discussões e reuniões, ganha espaço e comanda o futebol de sua região, aproveitando as vantagens e as mordomias que o cargo oferece.
E aí, meu amigo, para sair é um tormento. Os dirigentes se perpetuam nos cargos, embora estejam sempre se queixando de dificuldades. Mas querem, sim, é manter o foco, o comando, o espaço na mídia e, principalmente, o poder. Mando e desmando – é assim que funciona.
E quando surge alguém que represente possível ameaça à sua estabilidade, pau nele. E é justamente o que ocorre com as federações e a CBF, na saraivada de ações contra a realização da Primeira Liga (que também, cá entre nós, começou atropelando, sem o devido planejamento, só para fazer pirraça). Porque o sucesso de um torneio como esse pode representar a alforria dos clubes, o que o Clube dos 13 tentou antes e não conseguiu, justamente por também se deixar levar pelos interesses pessoais e pelo turbilhão de vaidades.
O futebol brasileiro reflete o que é o país. E seus dirigentes exatamente o que pensam e como agem os políticos, mais interessados em manter seus status do que realmente governar para e pelos interesses do povo.
E assim vamos levando, no futebol e no país. Sem solução aparente.
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