Não foram poucos os que me perguntaram: e agora, o que vai ser? Vai se classificar com folga – respondia de pronto. Porque, de uma forma ou de outra, vai arder na carreira deles no mundo profissional. E a seleção brasileira passou de passagem pela Dinamarca superando os sustos dos primeiros dias de salto alto na Olimpíada.

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Porque, até então, a comparação que machucava era com o futebol feminino. Marta é melhor que Neymar, veio de alguma faixa ou postagem na internet. E aí, automaticamente, me veio à cabeça um exercício de imaginação, pondo no lugar de uma jogadora machucada um dos nossos “ídolos” do futebol. Teria sido um show teatral, com direito a rolar no gramado, levantar o braço e pedir socorro, atrair a atenção de todos em campo e aí, na hora da entrada da maca com o serviço médico, dar o estalo de que tudo está bem e vamos em frente. E ela só se levantou e voltou pro jogo.

Esse tem sido um diferencial contra o futebol masculino nos últimos tempos, potencializado de vez no comportamento de nossos representantes nos jogos olímpicos do Rio. É uma praga que se impregna de tal forma que não há argumento que possa extirpá-la, por mais danosa que venha a se mostrar.

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Neymar, nosso craque maior, tem sido o maior exemplo dessa discrepância. Quando joga pelo Barcelona segue a cartilha e se comporta de acordo com os padrões europeus. Apanha, cai e rapidamente se levanta para que o jogo não sofra solução de continuidade. Mas basta vestir a camisa da seleção brasileira para se transformar e regredir ao ator frustrado que transforma qualquer pancada em drama, como se estivesse a sofrer fraturas em todas as bolas divididas.

Foi assim no começo de sua saga europeia, mas bastaram algumas estrepitosas vaias e a revolta de alguns companheiros para a encenação ser deixada de lado – e guardada apenas para as apresentações pelo escrete nacional.

A seleção olímpica brasileira de futebol masculino vive num mundo irreal, mundo virtual, sem qualquer comprometimento com os símbolos dos jogos ou do patriotismo. Isso porque boa parte dos jogadores (dentre os quais Neymar) não tem noção do que significa representar o país e se empenhar até a última gota de suor para tentar fazer o melhor além do impossível – como se vê costumeiramente em outros esportes.

Há uma razoável explicação, creditando esse comportamento às facilidades vividas pelos jovens futebolistas, que de repente saíram do nada para uma vida deslumbrante de salários astronômicos e assédios inimagináveis. Esse monte de dinheiro que chega assim do nada mexe com a cabeça de qualquer um. E mais ainda na desses meninos, que, em vez de serem orientados por seus procuradores e empresários, são usados por eles, que, ambiciosos, pensam somente no percentual a cair em suas contas bancárias.

Ontem, apertados, eles decidiram jogar e se classificaram. Mas quem sofre com isso somos nós, brasileiros comuns, que ainda acreditamos ser possível ver o futebol apenas como um esporte competitivo e emocionante. O que será daqui para a frente? Ninguém sabe, mas parece que eles aprenderam.

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