A temporada ridícula do Paraná obriga uma reflexão sobre o sistema eleitoral do clube. Não se pode aceitar mais – com base em conceitos primários da democracia – a exclusão dos sócios-torcedores na escolha dos dirigentes.

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Diante da opção estatutária dando direito a voto apenas aos frequentadores das sedes sociais, o debate de ideias inexistiu no pleito tricolor que elegeu Rubens Bohlen.

Falou-se de projetos abstratos apenas, como "estruturação do futebol", "profissionalismo", "re­­modelação patrimonial", "investir nas categorias de base", "refazer parcerias"... Mas como? Nada foi detalhado. Absolutamente nada.

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O assunto parece velho, pois o sufrágio ocorreu há duas semanas, mas ficou ainda mais atual com a possível queda do time da Vila para a humilhante Série C. O fracasso em campo traz a reboque uma pergunta: como o grupo vencedor, após afundar na mais movediça lama a instituição, tem a simpatia do seleto grupo de eleitores?

Parece-me simples a resposta: quem votou (menos de 650 pessoas) está preocupado apenas com a construção de um estacionamento na sede da Kennedy, a troca de lâmpadas na cancha de areia, a ampliação da sauna e a programação cultural dos sarais noturnos. Um pensamento egoísta e pequeno para uma agremiação com tanta representatividade na cidade.

Futebol é um setor econômico dos mais aquecidos. Dentro do Pa­­raná, graças à conveniência de mui­­tos, trata-se o esporte como um peso morto. Desafio o leitor a ver o balanço patrimonial de 2010. Não fosse a gestão da bola, todo o patrimônio viraria pó. Um Kelvin – e não o acho nenhum fora de série – vale mais do que 10 mil piscinas (aquecidas).

Para mim, só para simplificar, o voto geral não será a solução dos problemas do falimentar time. Porém, ao abrir a eleição presidencial aos sócios-torcedores, haverá discussão, prioridades definidas, confronto de projetos. É saudável, plural, abrangente, menos tirano.

Pois veja. Meu pai odeia futebol. Foi apenas, até onde eu sei, uma única vez ao estádio – "aquele" Atlético x Flamengo, em 1983. Não tem noção do que seja um escanteio – sem exagero. Ele tem direito a voto no Tricolor.

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Meu primo, torcedor um tom acima, frequentador assíduo da Vila, comprador voraz dos produtos licenciados, defensor aguerrido da sua paixão, mensalidade na arquibancada sempre em dia, não tem o título de eleitor. Ficou sem voz na escolha.

Na boa, essa distinção de categorias não deve ter argumentos. Tratar o paranista de arquibancada como alguém de "segundo escalão" transforma os dirigentes em figuras caricatas. Eles não representam o anseio da maioria.

Assim, para muitos que não se interessam por política, fica a lição. Colégio eleitoral segregado, dirigentes péssimos, equipes medíocres. Que Deus ajude o Paraná no sábado.

Goste ou não, a disputa eleitoral no Atlético é saudável para a instituição. Existe, mesmo com a baixaria, a chance de um interessante contraponto. Na mesma linha, o candidato único do Coritiba, com aclamação merecida de Vilson Ribeiro, faz o Coxa perder a chance de conhecer novas vertentes.

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