Não basta saber bater bola. Futebol de alto nível e de longevidade exige profissionalismo. Não é uma opção. Essa lição é bastante clara no cenário do atual Campeonato Brasileiro. É por causa dessa combinação nada revolucionária, porém rara, que alguns jogadores mais rodados estão compensando um imenso buraco técnico nos gramados do país, a falta de camisas 10. Alex, 35 anos, do Coritiba; Zé Roberto, 39 anos, do Grêmio; Seedorf, 37 anos, do Botafogo; Paulo Baier, 38 anos, do Atlético; e Juninho Pernambucano, 38 anos, do Vasco, são as almas de suas equipes. Não à toa, são também os ídolos de suas torcidas.

CARREGANDO :)

Eles têm em comum o refinado toque de bola e uma invejável visão de jogo. Além disso, chamam a responsabilidade para suas costas, tentando minimizar a pressão sobre os ombros mais jovens, e são exemplos de cuidado com a boa forma. Sempre fizeram do tempo de folga uma extensão da vida profissional, dando o descanso necessário ao corpo. Baladas, noitadas, bebidas e coleção de mulheres nunca fizeram parte do noticiário desses jogadores. É simples, mas parece difícil para a maioria dos iniciantes no mundo da bola – envoltos no clima de fama, status e dinheiro que acompanham a profissão nos tempos modernos.

Claro que os trintões já não têm a mesma velocidade de antigamente, mas fazem a bola se movimentar com precisão quase cirúrgica. Quando não funcionam como relógio suíço dentro de campo, nos vestiários levam a palavra do amadurecimento. Dão dicas aos companheiros, puxam a orelha destes e transmitem a paciência conquistada pelos anos de vivência esportiva. Trabalho tão ou mais importante do que o realizado com a chuteira nos pés.

Publicidade

A ascensão desses senhores do futebol traz também um sinal de alerta. Não há jovens substitutos para eles, gente com quem dividir o peso de cérebro ofensivo dentro de campo. O último grande nome a arrancar elogios dos cronistas e torcedores de plantão foi o de Paulo Henrique Ganso, hoje uma sombra no São Paulo do meia encantador que saiu do mesmo forno santista que rendeu o menino Neymar.

O atacante do cabelo moicano, inclusive, simboliza outro problema verde-amarelo: a exportação de craques. Os clubes daqui não têm dinheiro para competir por atletas de alto nível internacional. Quando estes vêm para o nosso Brasileirão é quando estão próximos da aposentadoria; por laços afetivos com clubes e familiares; ou em busca de reerguer a carreira estagnada (muitas vezes de olho na seleção brasileira).

Como são muito acima da média, sobram em um torneio de qualidade técnica limitada – culpa exatamente da saída precoce de talentos para o exterior e do reflexo dessa mentalidade no trabalho das categorias de base de Norte a Sul do país. Hoje a produção de pé de obra é massificada, valorizando o físico mais do que a criatividade.

Os "velhinhos" são a sensação do Brasileiro. Com toda justiça.

Publicidade