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Não há muito a falar sobre a situação precária do departamento de futebol paranista. Vale a pena mesmo mencionar o papel de Lúcio Flávio no enfrentamento da crise. Em um ambiente de repressão trabalhista, injusta incompreensão de alguns torcedores (grupo, ainda bem, cada vez menor) e a relação patrimonial clube-atleta, o meio-campista não se omite.

A situação é tão difícil quanto dominar uma bola no péssimo gramado da Vila Capanema. Se existe alguma forma de o Paraná sobreviver, passa por sinceridade, clareza nas cobranças e franqueza com o torcedor – como o camisa 10, em nome de todo elenco, tem feito rotineiramente.

Lúcio Flávio é de uma geração de boleiros que cresceu sob o lema "eles fingem que pagam, eu finjo que jogo". Durante pelo menos 20 anos as agremiações optam claramente pela política de quitar dívidas na Justiça do Trabalho e acuam os atletas com o covarde discurso de preservar a imagem da instituição.

Com medo de retaliações, muitos ainda jogam sem prazer e perspectiva, sob a intensa pressão familiar. A atitude dos paranistas, liderados pelo veterano meia, expõe um novo cenário – cada vez mais presente no noticiário esportivo. Os jogadores não são mais assujeitados aos cartolas/mercado. Exigem contrapartida pelo trabalho, como qualquer um.

"Não paga, não jogo" é o novo vetor da categoria. A greve é uma ferramenta democrática e justa, direito de todos. Se o time não entrar em campo, perde por WO, sem mais. O culpado pela vergonhosa derrota será quem não honrou com a palavra ou contrato – e não o "goleiro mão de alface", o "volante limitado", o "atacante pé murcho", o "técnico burro"...

A relação trabalhista entre clubes e jogadores é complexa, sem dúvida. Mas os critérios adotados são na maioria contra o pé de obra. Dois exemplos: 1) boleiro recebe adicional noturno por jogar a partir das 22 horas? Não! Por quê? Se a justificativa jurídica para tal pagamento é o desgaste físico pela jornada fora de horário convencional, deveriam ter esse bônus. E detalhe: os clubes ganham dinheiro para aceitar entrar em campo no pós-novela. Eles têm direito a hora extra? Também não! Mas ficam, muitas vezes, especialmente quando viajam, acima de 10 horas à disposição do empregador.

Lúcio Flávio semeia no futebol local a cultura do basta. A ideia do Bom Senso FC de incluir punição esportiva, como rebaixamento, aos maus pagadores é a manifestação mais explícita dessa postura. O torcedor precisa se acostumar com a nova personalidade dos futebolistas. Chega de tratar quem calça chuteiras como ignorantes, privilegiados por vestir camisa X ou Y. É preciso vê-los como cidadãos.

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