Convenhamos: o Campeonato Brasileiro, que começa agora, neste final de semana, é um namoro mal-resolvido. Uma dessas histórias de folhetim barato, permeada de traição e raros momentos de prazer. Um desses amores ordinários, do qual nós, torcedores irredutíveis e compulsivos, jamais conseguimos nos livrar. A ladainha repetitiva de sofrimento que todos os anos nos leva à beira da loucura. A começar pelo próprio enredo.
São seis meses de espera. Meio ano. Praticamente um semestre inteiro entre o fim do campeonato do ano anterior e o início da próxima disputa. Tempo quase que suficiente para se gestar uma criança. Para pedir demissão do trabalho e recomeçar uma nova empreitada. Tempo suficiente para se colocar uma mochila nas costas e dar a volta ao mundo. Para se noivar, casar, encaminhar o projeto do primeiro filho e, hoje em dia, até se separar.
Em outras palavras: seis meses é tempo mais do que suficiente para se mudar a rota de uma vida, mas que nós, torcedores irredutíveis e compulsivos, preferimos aguardar passivamente.
Nesse período até flertamos com outras disputas que se insinuam como pretendentes. Os campeonatos estaduais têm lá seu charme. São como namoradas dignas e apaixonadas, mas que, não se sabe exatamente o porquê, não balançam nossos corações.
A Copa do Brasil tem a beleza jovial dos 20 e poucos anos de idade. Mas nada mais é do que um encontro furtivo, desses à meia-luz, que a qualquer momento, a um simples tropeço em um mata-mata qualquer, acaba sem deixar marcas, uma boa lembrança para se guardar.
O Brasileiro, não. O Campeonato Brasileiro é a paixão desenfreada, o amor arrebatador. O que não significa necessariamente um percurso contemplativo.
Como todo relacionamento, surge com a intenção de trazer a felicidade. Mas há percalços doloridos: a derrota em um clássico, o erro de um árbitro incompetente ou mal-intencionado, o gol perdido pelo centroavante em um jogo decisivo, o ponto que não se conquistou e vai fazer falta lá na frente ou o frango do goleiro diante do rival direto pelo título. Fora o risco do rebaixamento, o ápice da traição no relacionamento com o Campeonato Brasileiro.
O que só nos leva a crer que esse tal de Campeonato Brasileiro nada mais é do que uma mulher traiçoeira, dessas que não valem nada. Mas que para nós, torcedores irredutíveis e compulsivos, vale muito. Como vale!
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