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Dunga, meu querido, sei bem de onde vem todo esse teu rancor. Afinal, passei pelo mesmo problema. Como vo­­cê, também fui uma criança gordinha. E nada mais desumano do que se ter uns quilos a mais na infância. Não basta o cerceamento àquilo que to­­da criança gosta, a todas aquelas gostosuras, ainda há as pi­­­lhérias dos colegas da mesma idade. Aí, não tem jeito. Dian­­te da crueldade dos outros meninos, só resta aos gorduchos se imporem pela persis­­tên­­cia desde pequenos. Exata­­mente o que você fez.

Quem me contou é fonte digna. Conterrâneo teu do Rio Grande, um ex-jogador que cresceu com você na mesma turma de amigos lá de Ijuí e que andou treinando as equipes aqui de Curitiba faz alguns anos. Certa feita, após um treino e sabendo que vocês eram da mesma cidade, fui à beira do gramado e perguntei a ele como era o Dunga criança/ado­­lescente.

Primeiro ele riu. Disse que você era não só o gordinho da turma, mas também o caçula e, ao menos àquela época, o que menos intimidade tinha com a bola. Tripla credencial para ficar fora do time da gurizada. Em compensação, disse-me o mesmo sujeito, você in­­sis­­­­tia tanto para jogar, mas tanto, que, para se verem li­­vres da tua "marcação", os ga­­­­ro­­­­tos eram obrigados a pô-lo no time. Mes­­mo que fosse no gol.

"E aí ele catava tudo, fechava o gol só de birra, só para mos­­trar que poderia jogar, mesmo que fosse no gol", disse-me, ainda rindo da passagem de infância. Mas já na se­­quência esse mesmo treinador tirou o riso do rosto e, nu­­ma voz postada e séria, cravou: "Ele era obstinado desde criança. Não desistia nunca."

E aqui vale uma observação: isso me foi dito muito an­­tes de você, Dunga, assumir o comando técnico da seleção, quando teu nome sequer era cogitado. O que só prova a sinceridade da declaração.

Estou contando tudo isso só para que você, Dunga, daqui por diante, não fique mais ba­­tendo boca com jornalista. Por­­que jornalista é mesmo bicho chato, todo mundo sabe. Ao invés de municiá-los com xingamentos, faça como aquele menino gordinho de Ijuí, que mostrava seu valor e calava a boca de todo mundo dentro de campo.

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