Palmas para o imponderável

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O esporte não flerta com a justiça. Vence quem é mais eficiente dentro das regras do jogo, o que não significa que vence quem joga melhor ou mais bonito. Se dentro de campo a técnica pura e simples não oferece garantia inabalável de triunfo, provocando alguns resultados surpreendentes, o mundo da bola às vezes aplica uma pitada de justiça (divina?) às agruras do mundo real.

Eliminadas na primeira fase da Eurocopa, as seleções de Polônia e Rússia são bons exemplos de "castigo esportivo". Com a queda polonesa, os anfitriões perderam motivo para ir ao estádio – e a festa do futebol é sempre mais completa quando há a torcida local na arquibancada. Já os russos chegaram ao torneio como favoritos e, com bom futebol, aplicaram 4 a 1 na República Tcheca. Assim, as duas desclassificadas teriam lugar importante na fase final, mas foram exorcizadas pela divindade Bola depois que seus seguidores protagonizaram uma vergonha internacional nas ruas de Varsóvia.

Os fãs de ambas as seleções desrespeitaram todas as regras do espírito esportivo ao transformarem em pancadaria a caminhada em direção ao estádio. Grupos de russos espancaram poloneses que vestiam as cores de sua bandeira. A covardia foi recíproca. O resultado do patético embate de brigões, uma imbecilidade sem tamanho, foi a detenção de 184 pessoas, a maioria poloneses (156 a 24).

Obviamente, não há ligação racional entre o resultado em campo e o comportamento da torcida. Mas o insucesso dentro das quatro linhas serviu para evitar que o "hooliganismo" que manchou o Grupo A da Eurocopa se repetisse adiante. Deixá-los seguir na disputa seria premiar os valentões. Palmas, então, para o imponderável. Vale destacar que os bárbaros são uma minoria barulhenta que mancha a imagem das duas nações. Os bons, como sempre, pagam o pato pelos maus.

O esporte extrapolou a mera diversão. Isso não se discute. Virou fonte de renda milionária para muitos e razão de viver para outros. Uma mudança de patamar que mexeu com a alma do negócio. Vencer se tornou a única opção aceitável. Há muito mais do que isso. Há valor também na derrota.

A primeira fase da Eurocopa também trouxe dois exemplos de como a queda pode produzir seus heróis. A imprensa da Dinamarca considerou que a seleção de seu país caiu "de pé" após bater a vice-campeã mundial Holanda e endurecer o caminho de Portugal e Alemanha na competição. A equipe mostrou "olhos de tigre", como diria Rocky Balboa, e quase aprontou uma zebra na chave mais difícil do torneio continental.

Outra coadjuvante, a Croácia, mereceu aplausos ontem. Lutou como pôde diante da Espanha – já tinha empatado com a forte Itália –, mas sucumbiu ante à superioridade técnica da atual campeã do mundo. Isso é o esporte.