Atrasou, ficou devendo, perde pontos... Os clubes deveriam sofrer penas esportivas quando deixam de pagar salários ou recolher tributos trabalhistas. É o mínimo de justiça para atenuar a desigualdade do futebol brasileiro.
Parece razoável a ideia de que ao cobrir uma oferta para contratar o jogador X, o clube prejudicou terceiros interessados na aquisição do mesmo. Quando tal boleiro ajuda o devedor em campo, o dano ainda é maior para os concorrentes.
Existe um claro ganho dentro de campo com o calote institucional. Não são raras as histórias de clubes campeões que depois de levantar a taça renegociaram o pagamento da remuneração pendente ou simplesmente esperam um acordo judicial. Puro estelionato para tirar algo mais dos jogadores.
Como quem calça chuteira não liga para sindicato, órgãos de classe e muito menos gostam de mobilizações ou protestos, alguns poucos (a minoria, eu deduzo) pregam a justiça por via torta. Surge a máxima de Vampeta: Fingem que pagam, eu finjo que jogo.
A tábua de moralização funcionaria mais ou menos assim: com regras específicas e balanços financeiros em mãos, cada agremiação teria um cacife no mercado. Queimou o filme, avançou o sinal e fechou as contas no vermelho, sofre uma sanção. O castigo variaria de uma economia forçada, perda de pontos e até rebaixamento.
Não se trata de uma lógica inovadora, inédita ou revolucionária. Na Europa existe algo similar. E a sistemática tende a ampliar por pressão dos bons pagadores, como é o caso hoje do Bayern de Munique.
O chamado fair play financeiro, como batizaram os europeus, obriga os clubes a controlarem as suas despesas em função das receitas, impedindo que os gastos ultrapassem os custos. Simples assim. Como efeito da austeridade legal, a Uefa (a Fifa do Velho Mundo) pretende coisas nobres, como racionalidade nas finanças e limitar o efeito inflacionário dos salários e transferências.
No Brasil, o sonho de pôr na linha quem promete, ganha jogos e não cumpre não supera a barreira da ficção. Lembra até histórias da Copa 58 ou narrações esportivas do rádio em qualquer tempo. No discurso, há clubes levantando a bandeira. Na prática, riem do torcedor e lesam o atleta/empregado. Até a CBF já mostrou interesse em implantar a política linha-dura. Quem acredita?
Enquanto a moralização técnica não ocorre, continua-se vendo time se reforçando na base da camisa para brigar por títulos ou escapar do rebaixamento. O efeito é visível: quem não engana, não ganha. Ajustar esse estado de coisas é fundamental para o melhor vencer.
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