Na sexta-feira que antecedeu o Atletiba o presidente do Atlético, Mario Celso Petraglia, publicou uma carta no site oficial escrita por alguém, como ele mesmo citou, pensa igual. Na mensagem há a acusação da mídia de não promover o debate.
Quando alguém se recusa a responder a perguntas e estende isso a toda a corporação que comanda, o debate só pode ocorrer assim, por cartas ou colunas. Algo que torna mais fácil para fugir das questões e só dizer o que quer. De qualquer forma, vamos para o "debate".
Eu gostaria de explorar o argumento principal do presidente do Atlético para impedir um importante aspecto da cobertura da imprensa: as entrevistas. Ele acredita que é preciso pagar para isso. Quer uma declaração, abra a carteira.
O que o dirigente parece não entender é que uma empresa de comunicação, se agir com o mínimo da ética, não compra o direito de conversar com uma fonte. O dinheiro corrompe a relação, transforma o conteúdo em mercadoria. Em última análise, pode levar o locutor a se ver obrigado a produzir notícia afinal, está recebendo por isso.
A lógica vale para fatos do cotidiano e também para eventos ligados ao entretenimento. Sem distinção. Dar preferência ao microfone de um parceiro comercial, como sugerido pelo dirigente, pode ser visto como tudo, menos jornalismo. É negócio, maquiagem da realidade.
O futebol caminha sobre um terreno ligado a esses dois polos, abraçado ao interesse público pela paixão que desperta, mas com um pé na prateleira dos produtos de mídia. Agora, a captura por declarações é imune a qualquer distinção mercadológica. Ninguém é obrigado a falar, mas não é certo cobrar pela disseminação do que você pensa.
Exigir a permissão da cobertura jornalística apenas diante de pagamento fere os princípios da boa-fé na comunicação. O silêncio, neste caso, parece mais saudável e honesto com os receptores da informação.
Não acredito que um debate no qual um lado se recusa ou coloca à venda a possibilidade de responder perguntas seja um verdadeiro embate de ideias. Mantenho a minha opinião discordando da maneira como o Atlético entende que deve ser forjada uma notícia.
Mesmo assim, para descontrair, deixo a pergunta para o leitor: quanto você pagaria por uma entrevista? Depende se é um jogador do sub-23 ou do time principal? Depende se o time perdeu ou ganhou? Dirigente é mais caro? Eu não pagaria. Nunca.