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A Copa do Mundo no Brasil começou com a promessa de investimento de 100% da iniciativa privada nos estádios e desenvolvimento nunca visto das subsedes. Virou um grande jogo político, onde cada envolvido defende o seu lado sem pensar se é o melhor para a cidade, o estado ou o país. Tudo regado a milhões em dinheiro público.

Visitar os estádios apontados por estudos como futuros elefantes brancos eleva essa percepção bem acima do limite do aceitável – em dezembro estive em Cuiabá, Manaus e Natal para produzir as matérias especiais publicadas pela Gazeta do Povo no último domingo, material completado pelo correspondente em Brasília, André Gonçalves.

O cenário é claro: o governo nacional, querendo agradar politicamente, levou a Copa para todos os cantos, inclusive cidades nas quais o futebol definha. Os governantes locais não perderiam a boquinha – na verdade brigaram muito nos bastidores por ela – e prometeram estádios padrão Fifa, mesmo sem saber o que fazer com eles depois.

Em algum momento se perdeu nos discursos a promessa de 100% de investimento privado. Os argumentos foram mudando para "o aporte de recursos federais", "o aquecimento do turismo" ou "a exposição internacional". Tudo isso compensaria a verba pública nos estádios.

Teria de compensar também a manutenção. Por enquanto as subsedes e o governo federal garantem que, além de um ou outro jogo de futebol com apelo de público, as arenas serão mantidas com aluguel de espaços comerciais e realização de uma série de eventos. Tese que especialistas contestam veementemente.

Quando os campos vão ficando prontos, haja papagaio de pirata querendo aparecer. Em Fortaleza – outra escala da viagem, para a inauguração do Castelão –, eram dezenas de políticos seguindo a presidente Dilma Rousseff. Todos anunciados pelo nome no palco montado de frente para milhares de fortalezenses na cerimônia encerrada com show do cantor cearense Raimundo Fagner.

O governador do Ceará, Cid Gomes, chegou ao cúmulo de reverenciar o ex-presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL), Ricardo Teixeira. Apesar de sua nítida popularidade, ouviu vaias ao tocar no nome do cartola acusado de corrupção. Mas não se intimidou. Defendeu Teixeira com o argumento de que ele ajudou muito Fortaleza a garantir três jogos da Copa das Confederações e seis da Copa do Mundo, com a seleção brasileira em campo pelo menos uma vez em cada torneio.

Ou seja, se ele ajudou, não importa o que andou fazendo ou deixou de fazer. Só um exemplo do que se tornou regra pelo país. Sob o palavreado de que as benesses virão – enquanto os problemas e assuntos mal resolvidos são solenemente ignorados –, o que importa é garantir nossos recursos públicos, nossa imagem, nossa eleição, nosso estádio...

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