A notícia do adeus espalhou-se pela imprensa como um registro fúnebre. Uma perda precoce. Uma espécie de luto mundial. Em meio a tantas fotos e vídeos com as lágrimas do Fenômeno na coletiva de despedida, a versão virtual do jornal espanhol As encontrou um bom título para aliviar o clima. "O sorriso do futebol".
É verdade. Uma expressão suave, não o riso escancarado do homônimo Ronaldinho Gaúcho, com quem jogou pela primeira vez aqui em Curitiba, em 1999.
Era um sorriso espontâneo. Estava lá na comemoração de muitos dos 414 gols, em 616 partidas. E insistente. Voltava após os inúmeros dramas enfrentados pelo atacante. Como aquela horrível lesão em 2000. O close no joelho rompendo por dentro foi uma imagem de tapar os olhos. Fiz coro com os que decretaram lá, há uma década, o fim da carreira do jogador.
Aquele sorrisão ajudou a vender produtos, a conquistar musas e cativar fãs. Agora, com a revelação do hipotireoidismo, entendeu-se porque ele aparecia em um rosto cada vez mais inchado. Coisa simples. Se tivesse sido divulgada antes, aliviaria várias críticas ao camisa 9.
A volta ao Brasil lhe garantiu os últimos e alguns dos melhores sorrisos da carreira. Ronaldo se rendeu ao Corinthians e arrebatou uma nova legião de torcedores. Apaixonou-se pelo Timão. Chegou a comemorar o primeiro gol, logo contra o rival Palmeiras, pendurado no alambrado. Emoção jamais vista nos 15 gols marcados pelo maior artilheiro da história das Copas do Mundo. Tamanho envolvimento só poderia mesmo acabar em dor, quando nem ele ajudou a afastar a sina corintiana na Libertadores.
Uma vida intensa onde tudo ganhou enormes proporções. Como o casamento de sonhos com Daniela Cicarelli (coincidentemente celebrado na mesma data da despedida de ontem, há seis anos), seguido por uma separação relâmpago três meses depois. Ou aquela história mal explicada com os travestis. Episódio para deixar qualquer um com o sorriso amarelo. Isso vai virar folclore.
Ficará o orgulho de quem poderá contar para os filhos: "Esse eu vi jogar."
Incomodar?
Ao ser procurado pela reportagem da Gazeta do Povo anteontem, o presidente Aquilino Romani reclamou de ser incomodado em pleno domingo. O contato do jornal era porque seu time tinha perdido a sétima partida do ano na véspera e, pouco antes, seu vice de futebol havia sido agredido por torcedores uniformizados na Vila Capanema. Quem não aguenta mais ser incomodada é a torcida paranista diante de um futebol risível praticado por um time de dar pena.
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