A primeira participação brasileira em uma Olimpíada foi em 1920, na Antuérpia, com 29 atletas. Esta é a informação oficial. Mas a graça da História é que ela é dada a novas visitas e permite revisões.
Uma dessas revisitações será divulgada em dezembro pelo projeto Memórias Olímpicas por atletas Olímpicos Brasileiros, coordenado pela professora da Escola de Educação Física da USP, Katia Rubio, em forma de enciclopédia. O livro trará, em verbetes, a história de todos os atletas olímpicos brasileiros dos Jogos de verão até a edição de Londres, em 2012, corrigindo muitas informações sedimentadas do esporte olímpico nacional (inclusive o que abre este texto).
Alguns deles, Kátia antecipou na 13.ª edição do Congresso Brasileiro de História do Esporte, Lazer e Educação Física, na última sexta-feira, em Londrina.
Porém, mais que números e datas, o resultado mais importante do estudo que envolveu pelo menos outros 22 pesquisadores, é que ele resgata aquelas histórias dos atletas que não resultaram em ouro, prata ou bronze, mas nem por isso são menos brilhantes. Cada atleta de João Havelange (antes de se tornar mandatário da Fifa e alvo de várias denúncias por gestão fraudulente, praticou polo aquático e natação) a Cesar Cielo foi procurado e entrevistado para contar suas memórias, desde o início no esporte até os dias atuais.
O saldo é uma espécie de "mosaico de Gaudí", como disse a própria Katia. Faz sentido: assim como as obras do artista catalão, que dava um novo lugar a cada pecinha para formar grandes obras de arte, o estudo realoca a história de cada atleta para remontar a memória esportiva do país. Algo digno de se celebrar.
(Em tempo: a primeira participação de um brasileiro aconteceu 20 anos antes da data oficial. Uma das descobertas da pesquisa aponta que um atleta se inscreveu por conta própria para os Jogos de 1900, na França).
O Memórias também corrigiu o número oficial de atletas brasileiros que participaram da competição.
Até então, calculava-se que seriam 1.817. Com buscas em documentos oficiais, jornais, procuras às famílias, contatos diretos, via telefone, Facebook, Skype, chegou-se à conclusão que, na verdade, foram 1.800 olímpicos brasileiros; desses, 1.355 homens e 455 mulheres, competindo em 32 modalidades.
"Temos hoje um senso do esporte olímpico, em que montamos um grande mosaico. Temos as histórias publicáveis e as impublicáveis. Podemos ver como a identidade do atleta se transforma desde que se tornam olímpicos até deixarem de se sentirem alguém, esquecidos. Temos silêncios dos que não quiseram falar, por questões políticas ou institucionais. Pudemos trazer à tona os que estão em mais profundo esquecimento", destacou a pesquisadora.
Quem gosta de esporte/memória, agradece.
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