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Cuidado com o futebol. Ele pode queimar a sua língua a qualquer mo­­mento. Verdades absolutas, de repente, são trucidadas. Quem diria que o argentino Nieto, com os pés, seria o responsável pela reação atleticana que quase valeu um empate com o Corinthians no Paca­embu? Quem poderia apostar em uma reação do até pouco tempo acomodado Coritiba, capaz de colocá-lo na briga pela Libertadores?

Até domingo, a verdade absoluta era que Nieto só poderia ser útil no jogo aéreo. E ele deu inúmeros motivos para acreditarmos nisso, seja marcando gols importantes de cabeça, seja dando caneladas e tropeçando na bola quando a tinha nos pés.

Com isso em mente, o técnico Antônio Lopes resolveu deixar o gringo no banco de reservas – mesmo após ele ser o herói da virada sobre o Atlético-GO –, para apostar em atacantes de velocidade e movimentação na partida com o líder Corinthians, em São Paulo. Muito compreensível. Jogando fora de casa, a tendência era Nieto ficar isolado na frente, com possibilidades reduzidas de receber bolas em condições de finalizar.

Cheguei até a elogiar a estratégia na coluna Futebol de Botão publicada domingo. Embarquei em uma difundida teoria, que neste caso acabaria por mostrar sua fragilidade: a de que em um jogo fora, contra um adversário superior, o melhor era apostar nos contra-ataques.

A tática até poderia ter surtido resultado, caso Guerrón e Adaílton não tivessem sido nulos em um primeiro tempo sofrível de toda a equipe. Sem grandes alternativas, Lopes sacou Adaílton para colocar Nieto. E qual não foi a surpresa quando o argentino logo de cara fez a jogada do gol de Paulo Baier e, pouco depois, mandou um balaço de fora da área no travessão. Tudo com os criticados pés.

A nova verdade absoluta é: Nieto e mais dez na luta contra o rebaixamento.

Mais acima na tabela, o Coritiba chegou a abusar da tranquilidade em muitas partidas. Deixando escapar pontos por falta de ousadia, o discurso do técnico Marcelo Oliveira, de que ainda dava para pensar em Libertadores, parecia vazio. E o conselho da maioria ecoava: o Coritiba já pode pensar em 2012.

Neste caso – ao contrário do claro erro na opinião sobre a estratégica ida de Nieto para o banco em São Paulo –, posso dizer que ainda via alguma chance para o Coxa. Menos pelo rendimento em campo, especialmente nos jogos fora de casa, e muito mais pela tabela favorável na reta final do campeonato, que poderia acordar o time brilhante do primeiro semestre.

Confesso, porém, que o empate em casa com o Bahia há cinco rodadas me fez aderir ao coro do "agora só em 2012". Um pouco antes da hora, como mostraram as três vitórias seguidas nas últimas partidas.

Neste momento, a verdade do Coritiba no Brasileiro está em fase de definição. Era – e só deixará de ser se o time mantiver a arrancada – o time bom, mas acomodado, que tinha tudo para ir mais longe. Pode acabar como outra prova da capacidade do futebol de queimar línguas.

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