Escrever sobre futebol é uma porta aberta à encrenca. Enquanto alguns dedos digitam as palavras, outros seguram uma fita métrica para medir cada uma delas.

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É necessário escrever – e pensar – com o coração gelado, frio feito estes dias de inverno. O sangue, também frio, tem de percorrer calmamente pelas veias.

A um torcedor é permitido esbravejar, bufar, espumar pela boca enquanto segura e estica o escudo bordado na camisa de seu time, numa demonstração de amor animal e incondicional ao clube. Danem-se todos os outros times de futebol.

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Já a um cronista – mesmo um dublê de cronista esportivo, como este – isso não é possível.

Cronista não torce. Observa. Avalia. Examina. Tem que ser tranqüilo e infalível como Bruce Lee. Tem de ser ponderado, imparcial.

Este cartunista e dublê de cronista esportivo admite que já foi, em seus dias de ingenuidade e tolice, torcedor de um clube de futebol. Torcia apaixonadamente.

Já pulou de felicidade e ódio nas arquibancadas de seu time. Subiu em mesas de bar para comemorar – ou protestar – algum lance de jogo.

Já comprou camisa, bandeira e uma lista impensável de "souvenires". Já arrastou amigos para o estádio. Persuadiu outros a louvar seu time. Já sentiu aquele arrepio que percorre a espinha e os pêlos dos braços quando seu time entrava em campo. Cantou o hino quase lacrimejando.

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E já investiu um bom dinheiro nesta aventura amorosa.

Hoje, gozando de mais juízo, adquirido pela maturidade, este cartunista e dublê passa ao largo de um campo de futebol.

Chega. Perdeu a graça. Não dá mais.

Lá se foi o tempo em que só enxergava o time, reverenciava suas cores, defendia seus dirigentes contra argumentos contrários, ponderando que os benefícios ao clube eram mais importantes do que qualquer suspeita de ilegalidade.

Acabou. Este cartunista – e dublê... – cansou. Ficará apenas com a crônica. Com os desenhos de Los 3 Inimigos. Tranqüilamente sentado em uma poltrona. Friamente verá os jogos apenas pela tevê, profissionalmente, e olhe lá.

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Está definitivamente divorciado de seu clube de infância, de coração. Alguns vão achar que este cartunista não fará falta, que está indo tarde. Mas assim será.

E, claro, não irá torcer por nenhum outro time. A experiência já foi dolorosa demais.

Adeus, Clube Atlético Paranaense.

tiagorecchia@gazetadopovo.com.br