Acompanhei aos jogos da última rodada pela internet, de Pato Branco, cidade que já elegi como namoradinha eventual (dois ou três encontros anuais), ainda que não saiba se ela corresponde aos meus sentimentos. Por lá o interesse maior estava voltado ao jogo Grêmio x Fluminense.

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"Ah, tem clássico na capital?, perguntaram-me. "Como estão os times de lá?". "Assista ao jogo do Grêmio com a gente. Será um partidaço".

Sinto uma ponta de constrangimento sempre que toco no assunto futebol da capital paranaense, sobre Coritiba, Atlético e Paraná Clube, lá no interior.

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Às vezes tenho impressão que sentem pena de mim. "Como pode alguém se ocupar com isso? Você sobrevive disso, de crônica sobre os três clubes da capital?", parece que ouço sempre, mesmo que não digam nada disso.

É claro que todos de Pato que se interessam pelos times da capital sabem o que ocorre em Curitiba. Mas é a minoria. Cabem no pequeno estádio Pioneiro.

O interesse maior, de torcedor, intenso, é pelo Internacional e Grêmio. Palmeiras corre por fora, com Corinthians favorito entre os mais jovens.

Passei minha infância em Cascavel e sei como é isso.A capital do Oeste, além dos clubes gaúchos, é mais temperada com clubes paulistas, os quais ganham a preferência também das cidades do norte, como sabemos – o Paraná Clube que o diga!

Morei em Porto Alegre antes de Cascavel, levando comigo uma camisa do Inter. Como nenhum garoto gosta de torcer pra time perdedor, o Colorado gaúcho fez minha cabeça com o bicampeonato de 1975 e 76. Mas isso não durou muito. Os times paulistas estavam na moda em Cascavel à época.

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Certa vez, numa pelada no pátio do colégio, vestindo a camisa do Inter, apanhei de um colega mais velho, duas vezes repetente, que segurando minhas orelhas, bateu minha cabeça numa parede, gritando pelo seu time, o Palmeiras.

Tive que ir pra casa seminu depois de prometer ao agressor que iria revisar minha escolha. Lembrei-me de seu nome: Agostinho. Foi o primeiro palmeirense que encontrei na vida. E o valentão era bom de bola, o melhor do colégio. Ele começava e encerrava as partidas. Tudo funcionava em torno de seu desejo. Escolhia seu time e formava também o adversário. Nunca levou uma bola sua pra jogar. Os pernas-de-pau tinham que levar a bola ou não jogavam. Detonaram uma bola minha em um mês.

Tudo isso parece coisa do passado, mas não é. Visto do interior, o futebol paranaense ainda não existe.

Depois desse mergulho no interior, de volta a Curitiba, quando vi pela tevê aqueles oito mil torcedores no clássico entre Paraná e Atlético, no Pinheirão, pensei:

– Aí está a legítima e heróica resistência do futebol paranaense.

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