Futebol é uma atividade que, sabemos bem, exige estômago com paredes revestidas de ferro e ci­­mento; aparelho estomacal de avestruz, capaz de metabolizar fácil o aborrecimento inevitável quando inventamos de meter o nariz no assunto.

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Como um drible, futebol é a arte da dissimulação.

Você nunca verá um dirigente de futebol dizendo a pura verdade. Estes são craques em esquivar-se da veracidade com um chapéu, uma meia-lua, enfiando um papo-furado qualquer entre as canetas do incauto repórter. E este, por força do trabalho, informará aos torcedores detalhes da finta que levou.

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E os jogadores? Apesar do impacto menos nocivo, estes também mentem descaradamente diante de câmeras e microfones; uns mais, outros menos. Em um dia juram amor pelo seu clube beijando o escudo e em seguida você os vê de amasso numa esquina qualquer com outro time – às vezes um arquirrival.

Jogadores precisam ser amantes hiperbólicos, senão teriam vida curta, efêmera, e não poderiam deixar em seu rastro rebentos prodigiosos. Quanto mais puderem circular pelos campos mundo afora, mais oportunidades para compor um bom número de títulos com seu sobrenome.

Se não funcionar em um clube, não significa que não dará certo em outro. No entanto precisa fazer história em algum lugar. Algum endereço haverá de lhe cair bem, para não terminar sua carreira em ostracismo completo.

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Paulo Baier é o Noé da Arca da Baixada. Conduziu novamente a raça atleticana à salvação, depois de um dilúvio bíblico sobre suas cabeças, na última quinta-feira.

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Os 4 a 2 contra o ainda vice-líder Cianorte colocaram definitivamente o Furacão na rota de terra firme, a cinco pontos do manda-chuva do Estadual Coxa – que no mesmo dia, à tarde, foi ao Barigui, só que sob sol de maçarico, para um duro jogo-treino com o Timãozinho.

Há que se dizer que o Leão do Vale vem causando impacto. Mesmo com dez durante o segundo tempo todo, foi bravo na Arca da Baixada, numa tentativa desesperada de também se salvar da inundação cataclísmica.

O Leão deverá, a partir de agora, dividir também com o Atlético a disputa pelo repovoamento de sua espécie no Para­­naense, com o Alviverde já com uma das mãos no leme da embarcação.

Certamente os três proporcionarão capítulos finais – faltam apenas três – do primeiro turno do Estadual mais impactante. Pelo menos mais do que poderíamos imaginar.