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É óbvio que se um time de futebol profissional passa um longo período em je­­jum de vitórias, todo o resto vai a rodo para o ralo, por onde escoam repertório variado de maledicências. Do presidente ao roupeiro, sobra para todo mundo.

– Pai, por que o time não está ganhando? – pergunta o filho do roupeiro, o homem que zela pelo uniforme dos atletas, com carinho de mãe.

– Sei lá, menino. É fase.

– Mas quando essa fase vai acabar? Já faz tempo. Esqueci quando foi a última vitória.

– Essa zica já acaba. As vitórias voltarão em breve, fique tranquilo.

– No próximo jogo?

– Bem... é... talvez na próxima partida em casa...

– Por que não traz as camisas dos jogadores para a mãe levar naquela benzedeira?

Fez bem o morubixaba administrativo do Atlético, Marcos Malucelli, vir à baila defender sua gestão. A passeata organizada pela torcida Fanáticos foi o estopim para MM quebrar o silêncio gritante. Não fizesse isso, sua oposição esbravejaria "Silêncio! Silêncio!" das arquibancadas, aliás, camarotes.

Malucelli demorou um pouco porque sua carta, publicada no site oficial do CAP, é longa, extensa, de fazer inveja a Pero Vaz de Caminha e sua missiva ao rei D. Manuel, comunicando o descobrimento do Brasil.

"Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem". Não, não é um trecho da carta de MM; é de Pero Vaz.

"O que há por trás dessa iniciativa de tumultuar a atual gestão, inclusive aliando-se a tradicionais inimigos aos quais sempre acusou, uns, de criminosos e outros, de falacianos?". Não, não é um extrato de Caminha alertando sobre algum motim na frota de Cabral.

Malucelli ratificou que não vai abandonar o barco em um momento de águas turbulentas; e que, com 29 rodadas e 87 pontos em disputa, os rubro-negros logo irão pisar em terra firme.

MM parece não gostar muito de navegar pela internet, ao contrário de sua oposição. Chegou a citar Carlos Heitor Cony sobre o aspecto sinistro do ciberespaço, que segundo o imortal carioca (e este cartunista e dublê de cronista esportivo lembra de ter lido) é uma "cloaca de ressentimentos, inveja, calúnias, impotência existencial, fracassos profissionais (...)".

Gostando ou não de navegar, Malucelli verá hoje o Furacão enfrentar a caravela do Vasco da Gama, precisando soprar como nunca para tentar afundar a nau cruzmaltina, que vem flutuando em águas tão mansas quanto às de um poço.

O Coxa reencontra seu coadjuvante no funesto rebaixamento à Série B. Como disse o zagueiro Pereira, que esteve no Couto em 2009, é um jogo normal e que mudou muita coisa depois daquilo. E como! Exceto o vice da Copa do Brasil, foi campeão de tudo que disputou de lá para cá.

O que passou, passou. E o Coxa, passarinho.

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