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Acompanhando pela tevê o jogo Atlético x Cascavel, passei por um flashback, lembrando de minha infância vivida, dos sete aos quinze anos, na "capital" do Oeste do estado. Lá, à época, um piá pançudo ou torce por um time de futebol ou era menininha – um machismo démodé, ainda que mantenha algum vigor capenga.

No pátio de chão batido do Colégio Estadual Eleodoro É­­bano Pereira, nas aulas de Edu­­cação Físi­­ca, os dias de futebol eram os mais esperados. Franzino, com pernas que davam para palitar os dentes, este cartunista sempre foi um dos últimos a ser escolhido para integrar um dos dois times que jogariam sob o apito do professor.

Eram os sem camisas versus os com camisas. Torcia para que a moeda me levasse para o lado dos com camisa para não expor mi­­nhas costelas famélicas, mesmo com três refeições por dia e furtos na cozinha da mãe.

Na maioria das vezes minha participação se resumia a torcer pelo meu time do banco de reservas. Lembro-me de que me deixaram entrar em um jogo quando vencíamos por 7 a 1. Só assim os pe­­rebas tinham alguma chance de entrar.

Os piás que jogavam com camisas, exibiam, orgulhosos, as do Corinthians, Colorado (raramente dito "Interna­­cio­­nal"), Grêmio, Flamengo e outros times de grandes centros. Havia a camiseta branca do colégio, mas o professor permitia à gurizada esta pe­­quena fantasia de se sentir craques do seu time de coração.

Nunca vi, nestes dias de futebol no colégio, alguém trajando uma camisa do Coxa ou do Atlético. Na verdade, só fui tomar conhecimento da existência da dupla Atletiba quando a família mudou-se para Curitiba, no início da década de 80. Lembro que logo em seguida o Coxa foi campeão brasileiro, com a cidade em polvorosa.

Isso me causou certa estranheza. Onde estavam o Colo­­rado, o Grêmio, o Flamengo ou o Corin­­thians? Como é que não foi um deles o campeão nacional? Curi­­tiba tinha futebol e eu não sabia. Havia até um time chamado Co­­lo­­ra­­do aqui. Que depois costurou sua camisa vermelha com a camisa azul do Pinheiros. Achei aquilo estranho. Será que o Colorado do Rio Grande do Sul também faria isso algum dia com o Grêmio, pensava.

Retomando os dias de hoje, en­­volvido com futebol de um mo­­do que jamais imaginei, através do "acidente de percurso" que foi de­­senhar "Los 3 Inimigos", vejo nossos três times da capital com a mesma desconfiança da infância. Mesmo assim, quando entram em campo com adversários de outras partes do país, acabo torcendo por eles.

Se ainda estivesse em Cascavel, talvez tivesse participado do coro "timinho, timinho" que a torcida do interior desferiu contra o Atléti­­co, outro campeão brasileiro que acompanhei por aqui. Sorte minha.

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