O nosso olhar para a beleza e a importância de uma jogada, de uma partida, dependem muito de quem executa o lance, dos dois times, do instante, da época e do tipo de campeonato. Enxergamos muito mais com a alma do que com o olho.

CARREGANDO :)

Já imaginou a repercussão se o Rei Pelé tivesse feito o gol na Copa de 70 do meio de campo, gol que o Marcelo Pelé, jogador do Democrata, de Sete Lagoas, fez recentemente pelo Campeonato Mineiro?

O mesmo acontece em todas as atividades. Se um brilhante poeta, desses que recitam versos em bares noturnos, escrevesse: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena", diriam que são palavras simples e singelas. Como foi escrito pelo genial Fernando Pessoa, se tornaram sábias.

Publicidade

Depois que um jogador se torna um grande craque, mesmo no conceito do maior dos marretinhas, tudo que ele faz de bom passa a ser endeusado. Mas quando lembramos ou assistimos a um teipe do início de sua carreira e ou de sua infância, percebemos que ele já fazia as mesmas coisas espetaculares.

Já pensou se o Ronaldinho Gaúcho fizer o gol do título na Copa, no último minuto, numa jogada parecida com a que fez no gol contra o Chelsea? O mundo vai ficar boquiaberto. Serão três dias de filas para beijar os pés da estatua do Ronaldinho.

José Trajano, que é um ótimo observador e crítico, disse que, se o Ronaldinho Gaúcho der no Mundial o show que dá no Barcelona, será comparado ao Pelé. Trajano está ainda mais encantado do que eu com o jogador.

Prometo falar disso pela última vez. Quando digo que Ronaldinho Gaúcho já está no nível do Maradona e Garrincha e só abaixo do Pelé, mesmo se ele não for o maior destaque do Mundial, é apenas a minha visão. Não sou obrigado a ter a mesma opinião da história, que provavelmente será outra.

O racional René Descartes, que pensava muito e fazia pouco, disse: "Penso, logo existo". Acrescento: e também sonho.

Publicidade

Parafraseando Nelson Rodrigues, que dizia que o videoteipe era burro porque contrariava o que ele achava, posso também dizer, em um instante de prepotência, que a historia será burra se não der ao Ronaldinho Gaúcho, por causa de sete jogos, a grandeza que o seu futebol merece.

Zagueiro de sobra

Desde o início do futebol, quando os times jogavam com dois zagueiros, três no meio-de-campo (médios) e cinco atacantes, os técnicos, mais por medo do que por prudência, já escalavam um zagueiro na sobra. Um se adiantava e o outro, o beque (back) de espera, ficava atrás.

Na famosa retranca ou ferrolho suíço, um zagueiro ficava na sobra de outros quatro defensores. Qualquer dia volta essa moda. A Itália adotou o mesmo esquema na Copa de 70 contra o Brasil. Para evitar que o líbero saísse na cobertura, joguei ao lado dele.

O esquema atual com três zagueiros, para ter um na sobra, só funciona bem se o time jogar no ataque, marcando mais na frente, como fazem São Paulo e Goiás. Se os defensores marcarem muito atrás, próximos da área, não há espaço para ter um zagueiro na cobertura e os três ficam em linha. O terceiro zagueiro costuma não ter função e o time perde um armador ou atacante. Na prática, joga com dez.

Publicidade

Alberto Helena Júnior, com quem pretendo me reencontrar na Copa para continuar o papo do último Mundial, já questionou os lugares-comuns de que todo time tem de ter em todos os momentos um defensor na sobra e que o atacante, no confronto direto contra o defensor, leva sempre vantagem porque é mais veloz e mais hábil. Nem sempre.

Essas são boas desculpas para muitos medíocres técnicos e zagueiros.

Marcação e gols

A principal razão da maior média de gols do Campeonato Carioca em relação ao Paulista é a péssima marcação dos times do Rio. Será por causa da lentidão dos jogadores, da preguiça, de um deficiente preparo físico, do antigo estilo cadenciado e de marcar de longe, da má qualidade dos defensores ou dos atuais desequilibrados esquemas táticos? Tudo isso.