Até poucos anos atrás, os treinadores adoravam dizer nas vitórias que o time foi compacto e que não deixou espaços para o adversário. Nas derrotas, falavam o contrário. Compacto e espaço eram as palavras da moda. Explicavam todos os resultados. Foram substituídas por atitude e motivação.

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A ocupação bem feita dos espaços é importante para se fazer uma boa marcação e formar um bom conjunto. O ex-treinador Paulo Emílio escreveu no seu livro, "Futebol, dos alicerces ao telhado", que a distância entre o atacante mais avançado e o defensor mais recuado não deve ser superior a meio campo.

Se os defensores marcam muito atrás, longe dos armadores, sobram mais espaços na intermediária, entre os dois setores, para o outro time tocar a bola. Diferentemente dos europeus, os zagueiros brasileiros atuam muito recuados, encostados à linha da grande área ou mesmo dentro dela. Atrapalham o goleiro.

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Por outro lado, se a equipe marca mais na frente, com os zagueiros e armadores adiantados, sobram espaços nas costas dos defensores para os lançamentos. O goleiro precisa ficar atento e jogar fora do gol. Ele passa a ser o líbero. Para isso, tem de saber atuar com os pés. De vez em quando, um jogador mais inteligente coloca a bola por cima do goleiro. Aí dizem que o goleiro estava mal posicionado.

Se os defensores e armadores marcam mais atrás, com uma linha próxima da outra, sobram poucos espaços entre os dois setores, mas há mais espaços para o outro time trocar passes no meio-de-campo e pressionar. A bola não sai de perto da área. É perigoso. Essa marcação muito recuada dá grandes chances para os armadores adversários finalizarem de fora da área.

Os times europeus, como fez a França na vitória sobre o Brasil, na Copa de 2006, costumam adiantar a linha de zagueiros até a intermediária e iniciar a marcação com os atacantes no meio-campo. Ficam dez jogadores marcando em um pequeno espaço. O Brasil tentava tocar a bola e não conseguia sair dessa armadilha.

Em compensação, quando um time marca desta maneira, sobram mais espaços nas costas dos defensores para os lançamentos. Quando começou o jogo contra a França, na Copa de 2006, pensei que logo Ronaldinho ia deixar Ronaldo ou Adriano na cara do gol. Ou alguém ia sair do meio-de-campo para receber a bola livre atrás dos zagueiros, como fez Mineiro, pelo São Paulo, na final do Mundial de Clubes, contra o Liverpool. Ou algum jogador ia partir em diagonal, da ponta para o meio, para receber a bola atrás dos defensores. Nada disso aconteceu.

Quando vi a Bolívia, no primeiro tempo, quando tinha 11 jogadores, fazer no Engenhão a mesma marcação que fez a França no Mundial de 2006, e Robinho, no primeiro minuto, entrar em diagonal, da ponta para o meio, e receber livre um passe de Ronaldinho nas costas dos zagueiros, pensei que dessa vez o Brasil ia deitar e rolar. Novamente, nada aconteceu.

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Como falam os treinadores, não há mais time bobo. Nem a Bolívia. Ou foi o futebol que ficou abobado? Não apenas o futebol. Abobaram o mundo.