No gol do Barcelona contra o Milan, enquanto toureava o Gatuso em um minúsculo espaço, Ronaldinho Gaúcho, sem olhar para a bola, calculava a sua distância da meta, a altura dos zagueiros que estavam perto da área, a velocidade da bola e do Giuly que entrava em diagonal e ainda os imprevistos que poderiam interferir na trajetória da bola no momento do passe.

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Nem os mais modernos e mega-computadores das universidades de Milão e de Barcelona seriam capazes de tanta exatidão.

Fora esse e alguns belíssimos lances, o jogo foi bastante tático. Pela primeira vez, vi o técnico Rijkaard mudar o esquema tático após o gol para proteger a sua defesa. Isso pode ter sido bom para manter a vantagem na decisão em casa ou ruim, já que o Milan ficou tonto após o gol e o Barcelona poderia fazer outros, que lhe garantiriam a classificação.

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Parreira tem razão quando diz que a seleção não pode mudar todo o esquema tático para o Ronaldinho jogar como no Barcelona. Não se tem certeza se daria certo. O time espanhol é eficiente com apenas um volante e três atacantes porque, em vez de colocar mais armadores para proteger sua defesa, pressiona e transfere essa preocupação para o adversário. Parreira não gosta dessa marcação.

É correto o conceito, mas é um rigor, um exagero, dizer que no futebol moderno todos os grandes craques têm de marcar e que o Ronaldinho corre atrás do lateral. Isso raramente acontece. Se ele recuar demais, não terá condições de fazer tantas jogadas espetaculares perto da área. Não seria bom para o Barcelona.

Edmilson fez uma boa partida e foi novamente muito elogiado pelo Parreira. Não será surpresa se ele se tornar titular durante a Copa, ou ser uma opção freqüente no segundo tempo ou até estar no time principal na estréia.

Edmilson pode entrar no lugar do Emerson – estão no mesmo nível –, sem mudar o esquema tático ou ao seu lado e do Zé Roberto, como fez o Parreira no segundo tempo do amistoso contra a Rússia. Ronaldinho passaria a jogar no ataque.

Quando faço essas análises táticas, não pretendo ditar regras, ser dono da verdade nem acho o esquema tático tão decisivo. A beleza do espetáculo e os craques é que são importantes e essenciais.

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Mas não posso analisar o espetáculo, o conteúdo, o talento individual, sem conhecer a forma, o conjunto e a estratégia do treinador, que vai além do esquema tático.

Seria como um crítico de cinema que não conhecesse a técnica de filmagem ou um médico que tratasse dos doentes sem saber bem como funciona o corpo de uma pessoa sadia.

Medíocre hábito

Contra o Deportivo Cali, Mascherano mostrou seu enorme talento, no desarme e no passe longo, rápido, para frente e preciso, como em dois gols do Corinthians.

É preciso derrubar o medíocre hábito de que o volante tem apenas de desarmar e tocar a bola curta e de lado para o outro volante ou para o meia, que passa ao atacante. O time fica lento e previsível. O passe do volante pode também ser direto e para frente. A maioria dos volantes não sabe fazer isso, mas os técnicos precisam treiná-los e incentivá-los.

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Mestre Telê

Telê foi bicampeão mundial pelo São Paulo e um dos melhores treinadores de todos os tempos. Ele era tão bom e querido, que foi técnico seleção na Copa de 86, com total apoio popular, após ter sido o treinador da excepcional seleção de 82, derrotada pela Itália. Telê driblou o chavão de que técnico vive de vitórias.

A seleção de 82 perdeu, mas o técnico e time não perderam o eterno encanto.

Telê morava no clube, cuidava da bola, da grama, do vestiário e dos jogadores. Fora do horário normal de treinamentos, ele corrigia as deficiências técnicas de cada atleta, separadamente.

Telê não era chamado de professor somente pelo hábito e pela repetição, como acontece hoje. Ele era um mestre de verdade. Comandava o time e ensinava, não só a parte técnica, como também o comportamento ético e profissional.

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Se o futebol tivesse dois Telês, seria muito melhor, dentro e fora de campo.