Competir é perigoso

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Imagino que João Guimarães Rosa, quando escreveu que "viver é perigoso", pensava no improvável, no que não tem controle, no que não podemos prever, explicar, medir nem calcular. Viver é perigoso, mas é muito bom.

Jogar, competir, é também perigoso, ainda mais na reta final do Brasileirão de tanto equilíbrio. Não dá para prever nada. Assim como os árbitros não sabem marcar pênaltis, comentaristas esportivos, me incluindo, obviamente, não são bons profetas. Alguns ti­­mes já entraram e saíram umas mil vezes das listas de candidatos ao título, a uma vaga na Liberta­­dores e ao rebaixamento.

Não posso adivinhar, porém, posso divagar e fazer algumas análises técnicas e táticas, certas ou erradas, dos clássicos de hoje, entre Fluminense e Palmeiras e entre Atlético e Flamengo.

Na vitória do Fluminense sobre o Cruzeiro, só Cuca não sabia que o time mineiro avança bastante seus laterais, principalmente Jonathan, cada dia melhor no ataque. Em compensação, os dois laterais deixam muitos espaços nas costas. Só no segundo tempo, Cuca mudou a equipe, bloqueou o avanço dos laterais, e o veloz Maicon deitou e rolou nas costas dos dois.

Hoje, Cuca terá, desde o início, que marcar as jogadas aéreas do Palmeiras. É difícil. Sempre que saem gols nesses lances, colocam a culpa no goleiro e nos defensores. Os méritos são de quem cruza, forte e de curva, e de quem cabeceia, com a grande colaboração do imponderável. O cruzador, o goleiro, os defensores e os atacantes não sabem o ponto exato em que a bola vai cair, por mais que treinem.

Apesar de ter feito vários gols e algumas belas jogadas, esperava muito mais de Vágner Love. Ele não está nem melhor que Obina, muito menos que Eto’o.

O Flamengo tem jogado muito bem no primeiro tempo e mal no segundo. Tenho uma explicação, que não é a única nem sei se é correta. Como Petkovic, pelo meio, e Zé Roberto, pela esquerda, voltam no próprio campo para marcar e iniciar as jogadas, cansam no segundo tempo e não chegam mais à frente. Adriano fica isolado.

Antes da chegada de Ricardi­­nho, o Atlético jogava com três no meio de campo e Evandro próximo dos dois atacantes. Como Ri­­car­­dinho recua bastante para iniciar as jogadas, o time fica com mais talento no meio, mas perde o meia que chega à frente. Contra o Goiás, na única vez em que Ricar­­dinho entrou na área, fez o gol.

Não será surpresa se Celso Roth, durante a partida, colocar Ricar­­dinho no lugar de um dos volantes e Evandro na ligação com os dois atacantes. Não sei também se assim fica melhor.

Nesta reta final, cresce o número de frases feitas. São as mesmas do ano anterior, como "partida de seis pontos", "perdeu quando não podia (ou podia) perder", "garra de campeão", "vitória do título", "pacto pela vitória", "rodada decisiva", e tantas outras.

Parafraseando o filósofo Ne­­ném Prancha e o mestre João Sal­­danha, se pacto para ganhar título, palestra de motivação, muitos treinos de bola parada e faltas violentas (também chamadas de pegada), ganhassem jogo, o Bra­­sileirão terminaria empatado.