Ainda não terminou essa medíocre dúvida se os dois melhores jogadores do mundo, Ronaldinho e Kaká, deveriam ser ou não titulares da seleção.

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Quando Dunga diz que precisa ser justo com os jogadores que estiveram na Copa América, que tem de analisar somente os fatos, ser coerente, que há 22 titulares e tantas outras coisas, ele apenas repete o que os treinadores falam. Nem disse nada absurdo.

As críticas ao Dunga são menos pelo que ele fala e mais pela sua maneira de dizer, quase sempre zangado, hostil e com cara de confronto. O seu olhar e gestos falam muito mais que suas palavras.

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Dunga, obcecado pela concretude dos fatos, passa a impressão que não existem dúvidas nem subjetividade nos seus conceitos. É tudo seco, é ou não é, na bucha, sem nenhuma fantasia.

A franqueza, coerência, racionalidade e outras qualidades deveriam ser buscadas por todos. Mas, certas pessoas são tão coerentes, tão racionais, tão francas, tão exatas, tão operatórias, tão organizadas e tão normais que essas virtudes se tornam problemas. São os normopatas, dizem os psicanalistas.

Não penso que Dunga quis castigar os dois craques com a reserva por não terem ido à Copa América. O treinador, no seu excessivo pragmatismo e estreiteza, tem convicção que agiu certo, com coerência, justiça e seriedade.

Dunga não deu motivo também para ninguém duvidar de sua seriedade. A sua conivência com os interesses da CBF precisa ser criticada, mas ele não faz nada diferente do que os outros técnicos da seleção fizeram. Todos querem garantir o emprego. Infelizmente, assim age a maioria da sociedade.

Não sou psicólogo, psicanalista – embora tenha estudado para isso –, nem tenho certeza do que escrevo, muito menos de verdades absolutas. Apenas opino e divago sobre o assunto. Como cronista, tenho esse direito. Não posso ser apenas um repetidor, um analisador de números e de fatos concretos, como quer o Dunga. Além do mais, contra fatos, há sempre argumentos ou fatos mais interessantes.

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Se Dunga demonstrar em muitas outras situações a eficiência que mostrou no jogo final da Copa América, quando substituiu muito bem o Elano, contundido, por um jogador que não era de sua posição (Daniel Alves), o Brasil terá um bom técnico nos próximos anos, mesmo com a cara zangada e com Afonso de centroavante.

Feio e retranqueiro

Em uma entrevista ao programa "Arena Sportv", Mário Sérgio, que foi um excelente comentarista de detalhes técnicos e táticos, disse entre tantas coisas, que utiliza bastante a falta tática para parar o contra-ataque, que tem sempre alguns brucutus para anular os melhores do outro time, que adora marcação individual – estratégia abandonada há muito tempo pelos europeus –, que gosta de futebol de muita pegada e ainda ironizou os "poetas" que querem ver futebol bonito.

Todos escutaram em silêncio tanta sabedoria desse defensor do futebol feio, faltoso e retranqueiro. Se não fossem os poetas, o mundo estaria muito pior.