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O ser humano está, com frequência, dividido, mesmo quando não percebe, entre o prazer e a realidade, entre a ambição e a ética, entre ganhar uma partida a qualquer preço e respeitar as regras e os adversários.

Além da guerra urbana e da ida dos marginais para os estádios, a violência dentro e fora dos campos ocorre por causa da hostilidade entre os dirigentes, da pressão que sofrem atletas e treinadores para vencer de qualquer jeito e do exagerado destaque que a mídia dá às rivalidade entre os grandes clubes de um estado.

Na emoção de uma partida, muitos atletas, mal educados e pressionados por todos os lados, esquecem os valores éticos e o respeito pelo adversário e mostram todo ódio e agressividade humana.

No relacionamento com as torcidas organizadas, os dirigentes têm um discurso para a imprensa e outro quando recebem esses torcedores em seus gabinetes. O presidente do Corinthians deu um grande número de ingressos no jogo de domingo para a turma barra pesada. Essa relação perniciosa, que acontece em muitos clubes, contribui para a violência. Esses torcedores se sentem protegidos, poderosos e acima das leis.

As contradições estão em toda parte. É frequente ver pessoas, no futebol e em todas as atividades, participando de atividades solidárias, se posicionando contra as injustiças e, ao mesmo tempo, tendo comportamento ganancioso e pouco ético no cotidiano. Alguns grandes empresários, que se orgulham de seus trabalhos sociais, são os mesmos que pressionam e se aliam a políticos para serem beneficiados em seus lucros, prejudicando a população.

Como escreveu Ferreira Gullar, Lula tem um discurso para os ricos e outro para os pobres. Ocorre o mesmo em relação ao esporte. O presidente fala uma coisa para os dirigentes e outra, quando dá uma entrevista à ESPN Brasil, uma emissora independente e crítica. Lula não pode nem deve mudar as regras do esporte por meio de decretos, mas pode influenciar mudanças nas leis, como a de acabar com a prática de dirigentes se perpetuarem no poder.

Na semana passada, o presidente do Vasco recebeu acusações e críticas. Roberto Dinamite se defendeu. Os fatos precisam ser apurados. Uma das críticas confirmada por Dinamite, é a de que o clube paga um salário de R$ 9.500 para um parente. Como dizem os políticos, o presidente alegou que precisa de uma pessoa de confiança a seu lado.

No futebol, em todas as atividades e em todo o mundo, os que lutam pelo poder, alegando motivos nobres, costumam fazer as mesmas coisas que seus antecessores.

No Brasil, as irregularidades são mais frequentes, por causa da impunidade e da prática disseminada do jeitinho brasileiro.

Pior, mesmo as pessoas de bem se acostumam com tudo isso. Poucas ficam indignadas com o absurdo da violência urbana e nos estádios, com os abusivos gastos no Pan, com as agressões entre os jogadores durante as partidas, com as pessoas que jogam lixo nas ruas pelas janelas de seus carros de luxo, que estacionam em filas duplas e com tantas outras coisas comuns no cotidiano.

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