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Um leitor, que encontrei em uma das caminhadas pelo bairro onde moro, quando converso com minha imaginação e com outras vozes que estão dentro de mim, ficou surpreso ao saber que a seleção de 70, considerada por muitos como a mais brilhante e a mais ofensiva de todos os tempos, foi a que mais fez gols de contra-ataque.

Para o leitor, que não sei o nome, e para muitas outras pessoas, o contra-ataque está sempre associado ao futebol defensivo, o que não é verdade.

Com exceção de gol de bola parada e outros poucos tipos de gols, todos os outros são de contra-ataque, quando se recupera a bola. Se isso ocorre mais na frente, o time será bastante ofensivo. Além disso, nas décadas de 60 e 70, aconteciam pouquíssimos gols de bola parada. Isso aumenta a porcentagem de gols de contra-ataque.

Questionei na coluna anterior se a falta de craques no meio de campo da seleção é por causa de mudanças que os técnicos fizeram na maneira de jogar das equipes ou a falta de talentos obrigaria os treinadores a jogar de uma maneira mais dura, de mais marcação e com pouca criatividade.

O mesmo leitor me deu uma boa resposta. Disse que os técnicos, desde as categorias de base, colocam os armadores mais habilidosos e mais talentosos para atuar mais à frente, de meias ofensivos ou de atacantes, como se não tivessem condições para marcar. O leitor lembra ainda que Kaká, Robinho, Ronaldinho, Alex e outros jogadores excepcionais são meias ofensivos e não jogadores de meio de campo.

Penso também que é por aí. O meio de campo foi dividido pelos técnicos brasileiros entre os volantes, que marcam e atuam do meio para trás, e os meias ofensivos, que atacam e jogam do meio para frente. Desapareceram os grandes meias armadores, que faziam as duas funções, que atuavam de uma intermediária à outra e que faziam suas equipes dominarem as partidas.

Paradoxalmente, no momento em que se exige dos atletas terem mais de uma função, houve uma especialização no meio de campo. Isso aconteceu em quase toda a sociedade. Os especialistas trouxeram grandes benefícios e também coisas negativas. Diminuiu o número de profissionais que têm uma visão mais ampla e que saem do convencional. Faltam artistas, na sociedade e no meio de campo da seleção, que inventam e reinventam as jogadas.

Todos os armadores da seleção são bons, mas, a mais ou menos 20 anos, depois de Falcão, não surgiu um único armador espetacular. Não é por capricho nem pelo esquema tático dos técnicos europeus que, com exceção de Anderson, nenhum jogador de meio de campo da seleção atua em um dos grandes times da Europa. Mesmo Anderson não é destaque nem titular absoluto do Manchester United.

Há alguns lampejos de grande talento no meio de campo do futebol brasileiro, como o belíssimo passe de Felipe Melo para o gol de Nilmar. Felipe Melo, bom jogador, quis, contra o Paraguai, ser um artista, um craque, durante toda a partida, que ele não é. Por isso, acertou e errou muito. O craque não precisa mostrar em todos os lances que é craque. Ele é.

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