• Carregando...

A ansiedade é uma reação normal e necessária ante a um perigo real e objetivo. No caso dos atletas, a ameaça é a derrota e o fracasso. Todos os jogadores, de alguma forma, se alternam emocionalmente em uma decisão, ainda mais quando se decide em casa, diante de um inevitável otimismo.

A ansiedade, até certos limites, é benéfica. Há uma maior produção de substâncias químicas e o jogador fica mais atento e mais vibrante.

Se a ansiedade for exagerada, o cérebro deixa de comandar o corpo, e os jogadores passam a errar muitos passes e finalizações. O nervosismo pode levar também à inibição, à perda da espontaneidade e da criatividade.

Foi o que aconteceu com o Cruzeiro. Todos sabiam que a partida seria difícil, mas não se esperava que o time jogasse tão mal.

Independentemente da qualidade dos adversários, outros clubes brasileiros tiveram a mesma dificuldade psicológica em decisões no Brasil.

Nelson Rodrigues, com seu delicioso exagero, dizia que quem ganha e perde partidas é a alma. O Cruzeiro correu, foi vibrante, mas confuso. Tropeçou na alma.

Evidentemente, não foi só por isso que perdeu. O Estudiantes tem um bom time, um craque no meio de campo (Verón) e atuou com inteligência tática.

Cada atleta é de um jeito e reage de uma maneira diferente às emoções de uma partida importante. É preciso separá-los para se ter uma abordagem psicológica. Daí a necessidade de um trabalho psicólogo, a médio prazo. Mas a maioria dos clubes só gosta de palestras ocasionais, motivadoras, de autoajuda.

Existem atletas que crescem na adversidade. São geralmente ambiciosos e perfeccionistas. Isso é fundamental para ser um craque. Outros se inibem quando são vaiados, criticados e enfrentam grandes dificuldades.

Há atletas mimados, que só jogam bem se forem os destaques da equipe. Ao lado de jogadores melhores, como em uma seleção, se apagam. Outros preferem ser coadjuvantes. É mais fácil. São os obedientes e cumpridores dos esquemas táticos. Muitos técnicos adoram esses atletas.

Existem ainda os deslumbrados, narcisistas, que se acham melhores do que são. Sentem-se perseguidos pela imprensa, que não dariam a eles os elogios que acham que merecem.

Vi atletas calados, tímidos, que ficavam desinibidos e possessos em campo. Vi também muitos falantes e brincalhões que morriam de medo diante de uma maior responsabilidade.

São apenas alguns exemplos. O mais comum é o mesmo atleta possuir várias características, às vezes contraditórias. A alma tem muitos mistérios.

Não tenho também nenhuma pretensão de ser um analista psicológico. Sou apenas um curioso, um psicólogo de botequim.

Além do talento, o atleta ideal seria o que jogasse com muita garra, sem perder o controle das emoções; que fosse seguro, confiante, sem perder a autocrítica; e ambicioso, sem perder a consciência de que a força coletiva é essencial para o sucesso individual.

Esse super-homem não existe. Somos todos, uns mais, outros menos, frágeis, incompletos e dependentes da atenção, do carinho e da aprovação do outro.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]