Há muitas coisas que não gosto na vida, mas reconheço a importância delas. Uma é a estatística. Ela está presente no esporte e em todas as ciências. Tudo pode ser calculado. Como nada é exato nem se repete indefinidamente, cada nova experiência precisa ser vivida como única, diferente, fora de qualquer estatística.

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Por causa dessa incerteza e da inexistência de uma única verdade, todos se acham no direito de opinar sobre tudo, mesmo sem entender nada.

O Brasil é o principal favorito para o Mundial, principalmente pela qualidade de alguns de seus craques. Isso não significa, obviamente, que já é campeão. Será difícil. A Copa será na Alemanha e os europeus não querem ver o Brasil tão na frente.

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Há um exagero, um equivoco estatístico sobre as chances do Brasil. A maioria fala em 70% a 80%. Como não sou estatístico – matava as aulas na faculdade – nem matemático, se falar besteira, me corrijam. Não quero provar nada. Só divagar.

Como existem logo abaixo do Brasil de oito a dez seleções, mais ou menos, no mesmo nível e todas com chances de ganhar o Mundial, diluem-se as possibilidades de cada uma e também as do Brasil.

Entre estas seleções, citaria Argentina, Alemanha (por jogar em casa), Inglaterra, Itália, França (Zidane vai querer parar por cima) e um pouco abaixo, Holanda, Portugal, Espanha e República Tcheca. Não sei se incluo o México e a Sérvia e Montenegro. As outras serão grandes zebras. Por isso vou ignorar suas raríssimas chances matemáticas.

Se o Brasil possui umas três ou quatro vezes mais chances do que estas outras seleções – estou sendo otimista –, a possibilidade de o Brasil ganhar o Mundial está em torno de 30% e a das outras juntas 70% (na média, em torno de 8 a 10% para cada uma).

Se as chances são bem menores do que 50%, não seria mais provável o Brasil perder do que ganhar o Mundial? Fiquei confuso. Chamem um matemático.

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Futebol quadrado

No domingo, escrevi que o primeiro esquema tático foi o 2–3–5, com dois zagueiros, três médios e cinco atacantes. Para haver impedimento, era necessário ter menos de três jogadores entre o último atacante e a linha de fundo. A mudança na regra de três para dois ocorreu em 1925 e as defesas ficaram mais desprotegidas.

Em torno de 1930, surgiu o WM ou o 3–2–2–3. Um dos médios recuou para a zaga e os dois atacantes que voltavam para receber a bola se tornaram meias armadores. A arma principal das equipes passou a ser o quadrado no meio-de-campo, formado pelos dois médios e os dois meias armadores. Na época, a palavra mágico ainda não estava na moda. Portanto, não era quadrado mágico. Era só quadrado.

O inventor desse esquema, Herbert Chapman, técnico do Arsenal, deve ter sido um inglês muito sistemático, obcecado pela simetria. Os cinco que ficavam no próprio campo (três zagueiros e dois médios) formavam uma letra W e os cinco mais adiantados (dois meias e três atacantes), um M.

Se colocarmos a prancheta de cabeça para baixo, o W se transforma em M e vice-versa. Os cinco da frente de um time se encaixavam, ocupavam exatamente o mesmo lugar dos cinco mais recuados do outro time. Tudo simétrico. Por isso, a marcação era individual.

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O WM foi trazido para o Brasil, e persistiu por umas duas décadas e foi utilizado varias vezes na Copa de 50. Os craques Jair e Zizinho eram os meias e Danilo e Bauer os médios, formando o quadrado, que não era mágico.

Um esquema tático tão certinho e simétrico não poderia durar tanto. Futebol não é quadrado. Com o tempo, o WM ficou torto e dele surgiu o 4–2–4, que será assunto de uma próxima coluna.

Torcida

Pela história, simpatia do clube e em solidariedade ao José Trajano, uma pessoa generosa e apaixonada pelo time, vou torcer para o América, no Rio. Em Minas, vou torcer para o outro América, time do meu querido pai. Cruzeiro e Atlético já ganharam muitos títulos. Já em São Paulo, queria torcer para a Lusa, mas as suas chances de ganhar o título estão em torno de 0%. Não consigo viver sem esperança.