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Neste final de Brasileirão, o mais emocionante e equilibrado dos últimos anos, se pudesse es­­crever a coluna que gostaria de ter escrito, que retratasse bem o momento e as relações do futebol com a vida, escreveria a coluna que José Roberto Torero escreveu na terça-feira, com o título "Mata-mata corrido".

Se pudesse escrever uma frase que sintetizasse o Brasileirão, seria a de Fernando Calazans, que o campeonato é espetacular, mas os times são fracos.

Algumas vezes, quando penso em escrever algo, já escreveram antes de mim. Esse é um dos problemas de quem escreve duas vezes por semana. Outras vezes, a coluna escrita no dia anterior já não tem mais sentido quando é publicada. É a velocidade da co­­municação. A solução seria ter um twitter. Não daria certo. Não gosto de seguir nem de ser seguido. Sinto-me estranho nesse no­­vo mundo.

O equilíbrio do Brasileirão con­­tinua na última rodada. Al­­guns acham que o equilíbrio terminou e que o Flamengo já é cam­­peão. É a onipotência do pen­­samento. Não será surpresa se o Flamengo, o mais provável campeão, perder o título nem se o Cruzeiro, o que tem menos chance, conseguir vaga para a Libertadores. Embaixo, só há dois times certos na Segunda Divisão, Náutico e Sport.

O Grêmio, pressionado por seus torcedores para perder e não ajudar o Inter, deve fazer de tudo para ganhar ou empatar. Ou sou um ingênuo, que ainda acredita em Papai Noel?

Quando terminar, com ou sem surpresas, haverá dezenas de explicações para explicar o inexplicável. A que mais gosto, simples e óbvia, que também não é suficiente, é que, na maioria das partidas, os times ga­­nham quando estão próximos de perder, e vice-versa. Rara­­mente, uma equipe impõe a superioridade, mesmo em casa e contra qualquer adversário. Isso explica por que as equipes, sem melhorar ou piorar, ga­­nham e perdem várias partidas seguidas.

Se o Flamengo for campeão, será ótimo para Andrade e para todos os técnicos jovens e/ou interinos. Será ainda melhor para os treinadores mais simples e serenos, como Andrade e Ri­­cardo Gomes, que não fazem tea­­tro na lateral do campo e que não têm um deus na barriga.

Parte da imprensa colabora no endeusamento dos técnicos ao analisar tudo o que acontece no jogo à partir das condutas dos treinadores.

Outros jornalistas mantêm com os técnicos uma relação de proximidade, para tê-los em seus programas e, com isso, aumentar a audiência. A relação deveria ser gentil, educada, mas sem perder o distanciamento crítico. A turma do oba-oba sempre existiu. Conhecia-os de longe. Hoje, ela é em maior número. Os interesses são maiores.

O futebol, um esporte lúdico e prazeroso, cada dia mais, se transforma em um esporte agres­­sivo, bélico. A recente propaganda de uma cerveja na tevê mostra, explora e exalta o espírito guerreiro dos torcedores da seleção. Os limites entre a natural agressividade humana e a violência, dentro e fora de campo, são tênues e frágeis.

Torcedores acham sempre que o time perdeu porque os jo­­gadores não foram guerreiros, gladiadores. Xingam e agridem. É o caos.

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