O futebol é um paraíso de frases feitas e de mesmas explicações para situações bem diferentes.

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Quando trabalhava na televisão e fazia comentários ao vivo, esforçava-me para não dizer lugares-comuns e, de repente, já tinha dito. Isso também ocorre hoje no meu trabalho na rádio. Mesmo quando escrevo, com tempo para corrigir, não consigo fugir de algumas repetições. O clichê é um vício. Só os loucos e os raríssimos gênios são completamente originais.

A Libertadores é rica em clichês. Nessa semana, escutei várias vezes que existe um "estilo de jogar de Libertadores", "árbitro de Libertadores", "técnico de Libertadores", "jogador de Libertadores" e até "torcedor de Libertadores".

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Alguns repórteres adoram perguntar depois da partida: "Como foi estrear na Libertadores?" A maioria dos novatos responde sempre: "É um campeonato diferente, difícil de jogar, os árbitros não marcam faltas e os argentinos são muito catimbeiros."

Parece até que a Libertadores é outro esporte e que para ganhar o título é preciso jogar feio e bastante duro. Alguns narradores adoram dizer que existe no estádio um "clima de Libertadores" e que para vencer é necessário ter "espírito de Libertadores".

A Libertadores é a mais importante competição sul-americana, mais importante que os campeonatos nacionais. Ganhar a Libertadores dá muito prestígio e dinheiro. Por isso, há mais público, mais vibração, os jogos são mais disputados, corridos, com mais faltas e às vezes mais violentos.

Existem "torcedores de Libertadores", como muitos do São Paulo. Dizem também que o clube tem a "cara de Libertadores". Mas, por causa do elevado preço dos ingressos, o público tem, progressivamente, diminuído, como na quarta-feira. Para os dirigentes, torcedor paga qualquer preço para um jogo da Libertadores. Não é bem assim.

Há também "técnicos de Libertadores". O argentino Carlos Bianchi é chamado de Mister Libertadores, pelos títulos conquistados. Se Luxemburgo não ganhar essa competição, será lembrado como um grande treinador, estrategista, mas que não sabia disputar a Libertadores.

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Falam que "árbitros de Libertadores" são diferentes porque marcam poucas faltas e deixam o jogo correr. Por outro lado, os árbitros brasileiros, quando apitam jogos de campeonatos nacionais, são os que mais marcam faltas e pênaltis desnecessários em todo o mundo. Qualquer disputa de bola em que o jogador cai é marcada a falta. Os espertos jogadores brasileiros aproveitam disso e enganam os árbitros.

A contratação do zagueiro argentino Schiavi pelo Grêmio foi bastante elogiada porque ele é "jogador de Libertadores". Há vários assim rotulados. Qualquer perna-de-pau da Argentina tem a "cara de Libertadores". Não é o caso do Schiavi, que é um bom zagueiro para qualquer campeonato.

Dizem ainda que é bom para os clubes brasileiros contratar jogadores sul-americanos para a Libertadores porque eles "falam a língua dos árbitros". Mas também dizem que "a língua dos jogadores de futebol é universal". Qual é a verdade? Depende. "No futebol, não há verdade que dure mais que 24 horas."

Cabeças podem rolar

Dizem que a cabeça de um dos técnicos de Palmeiras e Corinthians vai rolar hoje. Se der empate, rolam duas ou nenhuma? Falam que o trunfo hoje do Palmeiras é o veterano Edmundo, que está muito bem preparado, mas somente para jogar bem um tempo. Será no primeiro ou no segundo? Será que o Corinthians vai mudar o seu esquema tático, o vapt-vupt, de muita correria e chutões para frente? Os jogadores parecem correr de um furioso leão. Às vezes, dá certo.

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