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Hoje será reaberto o Maracanã para o clássico entre Botafogo e Vasco. Estava com saudades do mais importante estádio do mundo.

Como não sou jornalista e, às vezes, gosto de ser cronista, vou contar algumas lembranças pessoais. Conheci o Maracanã aos 16 anos, em 1963, se não confundo as datas. Na época, iniciava minha carreira no Cruzeiro.

Numa noite de sexta-feira, eu e três amigos do bairro arrumamos a mala, colocamos uma bola debaixo do braço e viajamos de ônibus para o Rio, para assistir ao jogo entre Fluminense e Flamengo, que decidia o Campeonato Carioca.

Hospedamos em uma pensão aconchegante, simples e barata em Copacabana, em frente à praia. Hoje seria impossível. Passamos todo o dia brincando com a bola na areia, nadando e observando as lindas mulheres, com seus maiôs e biquínis avançados e eróticos para a época.

Depois, vimos o pôr do sol na praia, tomamos uma cerveja bem gelada e fomos para o "Espaguetilândia" (não sei se ainda existe), onde comemos uma deliciosa macarronada.

Antes de dormir, passeamos pela praia. Hoje seria perigoso, ainda mais para quatro jovens de outros estados. E ainda existem pessoas que, por causa da tecnologia, acham o mundo e o Brasil de hoje muito melhores.

No domingo, tomamos mais um banho de mar e fomos cedo para o Maracanã, onde pegamos um bom lugar no meio da galera. Estava feliz e emocionado com a festa da torcida e com o estádio lotado. O jogo terminou em 0 a 0 e o Fluminense, meu time do Rio na infância, foi campeão.

Voltamos para casa de ônibus no domingo. Era feliz e sabia. Na segunda-feira, teria de treinar à tarde no Cruzeiro e a noite estudava no colégio estadual, onde cursava o primeiro ano cientifico. Na época, as melhores escolas eram as públicas.

Não imaginava que três anos depois atuaria pelo Cruzeiro e pela seleção no Maracanã e que em 1969 jogaria contra o Paraguai, na partida que deu ao Brasil a classificação para a Copa de 70. Oficialmente, foi o maior público do estádio. Não pensava ainda que depois do futebol me tornaria médico e professor de medicina, e que retornaria ao esporte, como comentarista e colunista.

Valeu a pena. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, escreveu Fernando Pessoa. Mas gostaria de ter tido uma alma ainda maior e mais agitada para ter vivido tudo isso e muitas outras coisas com mais intensidade.

Evolução do futebol

A partir de hoje, pretendo contar, resumidamente, em parte variável desde espaço, a evolução do futebol dentro dos gramados, sem obrigação de falar desse assunto em todas as colunas e sem data para terminar – terá de ser antes da Copa. Nas últimas colunas, farei uma análise das seleções que irão ao Mundial deste ano.

Na primeira metade do século XIX, a preocupação dos jogadores era brincar, correr, driblar e fazer gols. Eram nove no ataque e um na defesa. Uma grande pelada. Era um jogo de exibição individual.

Depois criaram vários regulamentos. Ficou confuso. Em 1863, numa taberna de Londres, após uma grande bebedeira, os cartolas unificaram e criaram as regras que persistem até hoje. Os cartolas da época eram mais criativos do que os de hoje.

Com o tempo, surgiram os "científicos" treinadores, que já gostavam mais de resultados e de esquemas táticos do que do espetáculo, e determinaram as posições e funções em campo. Acabaram com a brincadeira. O jogo ficou mais coletivo. Daí nasceu a expressão "grupo unido". O passe passou a ser mais valorizado do que o drible.

Progressivamente, houve uma troca de atacantes por defensores e armadores até chegar ao 4-6-0, como previa o Zagallo. Na Copa deste ano, independentemente do desenho tático, a postura preferida será a de recuar para o próprio campo quando o time perder a bola, inclusive os três ou dois ou o único atacante fixo. Vão tentar atrair o adversário para contra-atacar. Raramente veremos marcação por pressão.

O primeiro esquema tático oficial foi o 2–3–5. Será um dos assuntos de uma das próximas colunas.

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