Escrevi dias atrás sobre jogadores e fatos que estão fora de lugar no futebol. Citei Ânderson, que era um meia habilidoso, imprevisível, irreverente e que se transformou em um bom e bem comportado volante, igual a tantos outros.

CARREGANDO :)

Em uma entrevista à ESPN Brasil, Mano Menezes, que foi treinador de Ânderson no Grêmio, disse que o jogador está adquirindo consciência tática na Europa e que isso vai ajudá-lo bastante na carreira.

Ter consciência tática é essencial. Para isso, não é preciso sair do Brasil. Já escrevi dezenas de vezes que o craque só brilha quando atua em equipes organizadas e possui funções definidas. Já mudar de estilo e jogar em uma posição incompatível com suas principais características é outra coisa.

Publicidade

Ânderson poderia atuar de volante sem mudar tanto o estilo. Jogaria como alguns antigos meias armadores, como Gérson. Deco atua hoje dessa forma. É mais ou menos como jogam os melhores volantes da Europa, como Gerrard, Lampard, Ballack e Xavi.

Quando dizem que Gérson é o símbolo do passe, fazem uma grande justiça. Quando assistem ao Gérson andar com a bola nos pés em um lance isolado da Copa de 1970, e falam que ele é o símbolo do futebol lento e de pouca marcação do passado, cometem uma grande injustiça. De todos os armadores que vi, Gérson foi o que melhor se posicionava defensivamente, além de orientar os zagueiros.

Há muitas outras coisas fora de lugar, dentro e fora de campo. Enquanto o presidente da República só pode ser reeleito uma vez, os presidentes de clubes, de federações, da CBF e do COB se perpetuam no poder, graças às manobras de seus parceiros. E ainda arrumam empregos para amigos e parentes.

O futebol se tornou um negócio e, por isso, é necessária a presença de investidores, empresários e patrocinadores. Mas quando um empresário empresta dinheiro ao clube e administra a vida profissional do técnico e de alguns jogadores desse mesmo clube, alguma coisa está fora de lugar. Nem todos os profissionais são honestos. Os treinadores sofrem pressão de empresários e de dirigentes, que querem ver no time os atletas que vão dar mais lucro ao clube em uma transferência.

Há várias coisas fora de lugar dentro de campo. Os treinadores positivistas e pragmáticos se tornaram mais importantes que o futebol. Aos poucos, transformam o futebol em um jogo excessivamente científico, previsível, tático e técnico, parecido com o vôlei e outros esportes.

Publicidade

A ciência e a tecnologia são essenciais para o desenvolvimento do futebol e de qualquer atividade. Mas o futebol é também arte, espetáculo e improvisação. O acaso decide muitas partidas.

O ser humano, na sua prepotência, acha que só existem no mundo as coisas que ele vê e analisa. Assim como alguns animais enxergam e percebem várias coisas que desconhecemos e não vemos, há um saber inconsciente, intuitivo, que antecede e/ou vai além do raciocínio lógico.

É o que não tem explicação nem nunca terá, como diz uma das magistrais músicas do mais magistral letrista brasileiro.