Não é fácil ter sido um jogador e tentar ser agora um comentarista e um cronista independente e imparcial. São muitas as tentações.
Como escrevo a mesma coluna para 12 estados, dou preferência a assuntos nacionais, que nem sempre são os mais importantes. Por outro lado, recebo algumas críticas e pedidos de vários estados para falar mais sobre jogadores e times locais. Não tenho tempo para escrever várias colunas nem consigo observar detalhes de tudo.
Como sou mineiro, moro em Minas e joguei a maior parte da minha carreira no Cruzeiro, de vez em quando alguém reclama que falo pouco do futebol mineiro, apesar de ser o único estado que acrescento um assunto local à coluna. Não posso ser bairrista.
Como fui um dos principais jogadores da história do Cruzeiro, alguns torcedores e dirigentes se queixam de que exalto pouco o time e que não participo de assuntos ligados ao clube. Não posso ser parcial. Não participo desses encontros porque quero ter a total liberdade de criticar e elogiar.
Pelo mesmo motivo, raramente aceito convites de federações e da CBF para comparecer em solenidades. Além disso, fico muito mais à vontade e gosto mais da companhia de pessoas mais próximas do que ser alvo de curiosidades.
Como fui um atleta, às vezes jogadores e técnicos reclamam que sou muito crítico, como se não fosse solidário à classe e/ou menosprezasse a qualidade técnica de alguns atuais jogadores. Não posso ser corporativista, ainda mais sem nenhum motivo, já que exerço outra atividade. O passado está presente em nossas vidas, mas não pode estar à frente do presente.
Como fui campeão do mundo em 70 e joguei em um dos maiores times da história, há sempre alguém para achar que sou saudosista quando elogio muito jogadores e equipes de outras épocas. Há também, ao contrário, os que protestam quando escrevo que Ronaldinho Gaúcho é superior à maioria dos grandes craques do passado. Há craques e pernas-de-pau em todas as épocas.
Como fui atleta e não sou formado em jornalismo, de vez em quando aparecem manifestações explicitas de protesto contra a presença de comentaristas trabalhando na imprensa. Em todo o mundo, ex-atletas ocupam funções de comentarista. Isso não significa que é necessário ter sido jogador profissional, craque ou não, para ser um excelente analista de futebol.
Anos atrás, um jornalista que não lembro o nome e nunca mais o vi, disse na televisão que os meus textos não poderiam ser feitos por mim. Ele desconfiava que eram escritos pelo Roberto Drumond, grande escritor mineiro, que morreu em 2002.
Recebi esse preconceituoso e delirante comentário como ofensa e também como elogio, pela comparação com Roberto Drumond. Ou baixou em mim, literalmente, o espírito do escritor mineiro?
Se o presidente Lula tivesse assinado o decreto aprovado pelo Congresso que proíbe o trabalho na imprensa de pessoas não formadas em jornalismo, talvez voltasse a ser médico. Tenho saudades dessa época, principalmente com o contato com os alunos. Tenho ainda consciência e orgulho de ter sido um bom e dedicado médico e professor.
Se mudasse novamente de profissão, selecionaria alguns jogos para ver. É duro assistir a tanta violência e tantas partidas ruins por obrigação profissional. Poderia ainda voltar a estudar, exercer outra atividade ou ser apenas um filósofo de botequim. Tenho muitos desejos.
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