Cada pessoa vê, sente e analisa o futebol e a vida de seu jeito. Todos estão certos e todos estão errados.

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Se você é mais racional, pragmático e operatório, gosta de regularidade, segurança, certezas e repetições, detesta correr riscos, improvisações e acasos, só se interessa por resultados e ainda acha que as coisas que fez e que deram certo são as únicas maneiras corretas de fazer, não terá dúvidas, como Dunga, de não convocar Ronaldinho.

Se você é uma mistura de Sancho Pança com Dom Quixote, gosta de andar nas nuvens e ter um pé na realidade, adora novidades e correr riscos calculados, se interessa tanto pela qualidade do jogo quanto pelo resultado, acha que é possível jogar bonito e ser eficiente, e ainda pensa que há sempre maneiras de fazer diferente e melhor, não terá dúvidas de convocar Ronaldinho.

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Se você está convicto, como Dunga, de que não há nenhuma chance de darem certo, juntos, Ronaldinho, Kaká e Robinho, além de um centroavante, não chamará o jogador, nem para a re­­serva. Imagino que você e Dunga pensem que Ronaldinho, no banco, vai perturbar o grupo e o técnico, e que, na primeira partida ruim, haverá muita pressão para escalá-lo.

Se você vê em Ronaldinho uma grande esperança e ainda lembrar que, na Copa das Confederações de 2005, talvez o melhor momento do Brasil nos últimos tempos, jogaram juntos Ronaldinho, Robinho e Kaká, além de Adriano, vai ficar ainda mais convicto em convocá-lo. Na Copa de 2006, Parreira trocou Robinho por Ronaldo.

Se você acha que não correr riscos é também uma forma de arriscar, e ainda sonha em ver o Brasil dar espetáculo e ganhar a próxima Copa, pode desistir. Para isso, é preciso correr riscos. Dunga aposta na segurança. Para ele, perder jogando bem é pior que perder jogando mal. Não combinaria com sua coerência, que ele tanto se orgulha. Por isso, Dunga não entendeu, nem nunca vai entender, porque a seleção de 1982 é tão elogiada.

Os dois modos de pensar estão certos e errados. O que gosto não é sempre o que é melhor.

Já está tudo decidido. Se o Brasil for campeão, dando show ou não, a principal razão será a coerência e a rigidez de Dunga. Se perder, jo­­gando mal ou não, o motivo principal será a teimosia e a falta de flexibilidade do técnico. Na Copa de 2006, colocaram a maior culpa na concentração de Weggis, um problema muito menor que tantos outros.

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Se fosse técnico da seleção, teria de decidir, mesmo com dúvidas. Aí, levaria, não só Ronaldinho, como também Zé Roberto, o da Copa de 2006, mesmo não tendo jogado sob o comando de Dunga.

Eu formaria o meio de campo com Zé Roberto, pela esquerda, Daniel Alves, pela direita, e um volante marcador e mais recuado, pelo meio, como Gilberto Silva ou Felipe Melo. Ronaldinho seria o primeiro reserva de Kaká e de Robinho, podendo, no momento certo, jogar os três, mais o centroavante.

Ser comentarista é mais fácil. Se os fatos coincidirem com minhas opiniões, posso dizer, como tantos: "Não falei"? Se não der certo, direi que "o futebol é uma caixinha de surpresas".