Faltam 39 dias para começar a Copa. Durante o Mundial, o Brasil para.
Nesse período, aumentam o nacionalismo e o ufanismo. Parece que o Brasil vai para a guerra, e não para uma disputa esportiva. O povo se emociona. Até os canalhas, acostumados a roubar o dinheiro público, choram após um gol, abraçados à bandeira brasileira.
Empresas exploram o nacionalismo e o orgulho nacional. Em um comercial, Dunga grita e fala em raça. Em outro, torcedores com armaduras, vestidos para a guerra, exigem que os jogadores sejam guerreiros. É a palavra da moda. Muito mais importante que saber jogar futebol é ser guerreiro.
Se o Brasil ganhar a Copa, os jogadores serão heróis. Se perder, não será porque o adversário foi melhor, o time jogou mal ou porque as sombras do imponderável estavam do outro lado. Será porque faltou raça. Os jogadores serão hostilizados, chamados de mercenários e criticados pela falta de patriotismo.
Não há dúvidas de que no mundo globalizado e moderno (nunca entendi a expressão da moda, pós-moderno) diminuiu, em toda a sociedade, e não apenas no futebol, o orgulho de fazer parte de uma nação. O sonho das pessoas é ser cidadão do mundo, sem fronteiras. Não existe mais a Pátria de Chuteiras. A pátria agora é a do negócio, do trabalho.
Os grandes clubes da Europa contratam os melhores jogadores do mundo e exigem que eles se dediquem mais a quem paga seus altíssimos salários. Noto que os jogadores sul-americanos, com algumas exceções, têm mais orgulho de atuar por suas seleções que os europeus. São também mais pressionados para vencer.
Nesse momento, todos passam a entender de futebol e a pedir as convocações de Neymar e Ganso. Neymar, superelogiado, foi duramente criticado após uma entrevista com a jornalista Débora Bergamasco, do Estadão.
Entre tantas infantilidades, Neymar disse que não é preto, que alisa e pinta o cabelo de loiro, que quer ter um Porsche e uma Ferrari, que gostaria de viajar à Disney, que será obrigado a tirar título de eleitor e que não sabe quem são os candidatos a presidente do Brasil. Em outra entrevista, ele teria dito que é metrossexual.
Além da infantilidade e da falta de cidadania, deduzo que Neymar, por seu comportamento habitual, disse tudo isso brincando e rindo. Ele é um gozador. Não deve nem saber o que é ser metrossexual.
O comportamento de Neymar e de milhares de jovens, muitos vítimas da desigualdade social, é muito menos preocupante que a falta de civilidade de parte da população, formada por pessoas até com diploma universitário.
Após morar afastado por mais de dez anos, voltei para a cidade. Estou horrorizado com o barulho, mesmo nos horários de silêncio, com tantos carros estacionados em lugares proibidos, com pessoas andando no meio das ruas, correndo risco de serem atropeladas, já que os espaços nas calçadas estão ocupados por mesas de bares, além de outras infrações diárias, usuais e sociais.
Muitas dessas pessoas são as que, na Copa, gritam e cantam que têm orgulho de serem brasileiras.