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Essa bela e romântica manchete de um jornal argentino, não me lembro qual, que seria considerada brega, um lugar-comum, no Brasil, foi mostrada pelo repórter Marco Aurélio Souza, do SporTV, após a vitória sobre o Peru, no último minuto, com um gol impedido e sob intensa chuva. O peixinho de Maradona completou o espetacular drama. Ou seria o adiamento de uma tragédia?

De acordo com a maneira tangueira e apaixonada de ser, os argentinos, por gratidão, sentiram-se obrigados a dar a Mara­dona o que ele queria, o cargo de técnico. Agora, estão arrependidos. A paixão costuma acabar dessa forma.

Por causa dessa escolha apaixonada, e também pela falta de bons jogadores em várias posições, a Argentina corre ainda risco de não ir à Copa. Contra o Peru, o passional Maradona mostrou, mais uma vez, o seu despreparo técnico.

A paixão, ao mesmo tempo em que pode nos salvar e nos libertar, pode também nos cegar e nos escravizar. A paixão não sobrevive sem a razão nem a razão sobrevive sem a paixão. Daí, a expressão da moda, "inteligência emocional". Mas o perfeito equilíbrio não existe.

Quando Maradona assumiu o cargo de treinador, imaginei que o diretor-técnico Carlos Bilardo, treinador campeão do mundo em 1986, iria ajudá-lo. O racional Bilardo seria a contraposição ao passional Maradona. Não foi o que aconteceu. Maradona só conversa com seu auxiliar Man­­cuso, ex-jogador, que foi indicado mais por ser seu amigo.

Já que não conversa com Bilardo, Maradona poderia telefonar para Carlos Bianchi, que cansou de ganhar Libertadores e que é, hoje, "manager" do Boca Juniors. Bianchi poderia orientar Maradona sobre como se organiza um esquema tático para jogar fora de casa e no contra-ataque. Assim, ele ganhou de vários clubes brasileiros em decisões de Libertadores.

Mas Maradona não vai ter a humildade nem a sabedoria de escutar um mestre. "Vaidades, nada mais que vaidades".

Mesmo se a Argentina perder para o Uruguai, resultado mais provável, poderá ficar em quinto e disputar a repescagem, caso o Equador não vença o Chile, outro provável resultado. Maradona vai precisar da ajuda de outro mestre, o argentino e louco Bielsa. Ele, além de muito bom, é o único técnico do mundo que acompanha o jogo andando de um lado para o outro ou agachado de cócoras.

Se a Argentina não for ao Mundial, qual será a reação dos torcedores? Vão preservar Maradona ou haverá um rompimento, uma tragédia entre o ídolo e o povo que tanto o ama? E se a Argentina se classificar com outro gol de Palermo, no último minuto? Os apaixonados argentinos vão dizer que o santo, o deus Maradona, vai ganhar a Copa do Mundo ou vão exigir sua saída? Ninguém sabe. A paixão não tem regras nem explicações. Acontece.

O jogo do Brasil contra a Venezuela ficou em segundo plano. Espero que Dunga, até a Copa, sem perder sua racionalidade e sua gana de vencedor, coloque um pouco mais de encanto, de poesia e de paixão em seu trabalho. Sem isso, existe, mesmo nas vitórias, uma sensação de que faltou algo importante.

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