Quando era médico, um paciente me disse que tinha tristeza por existir e uma incapacidade de desfrutar os prazeres da vida. Ele contou ainda que tinha feito dez anos de tratamento psicológico, sem bons resultados. Já outras pessoas se beneficiam dessa ajuda.

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Um dia, para sua grande surpresa, a companheira de longo tempo lhe disse que ia embora. O paciente entrou em pânico. Era o ruído, o grito, que ele precisava para tomar uma decisão e mudar sua vida. Foi o que fez. Tornou-se outra pessoa e reconquistou a companhia e o carinho da mulher.

Evidentemente, não vou dizer que ele foi feliz para sempre, como nos filmes americanos. Mas passou a ter mais prazer nas coisas e a conviver melhor com os momentos de tristeza e com a angústia da finitude da vida.

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Lembrei-me dessa história ao ver Ronaldinho na reserva da seleção. Pela primeira vez, ele é reserva por motivos técnicos, e não porque Dunga quis poupá-lo ou porque está em recuperação física. Ele não foi reserva contra o Peru. Ele é reserva. E quase todos, como eu, concordam com o técnico.

Ser reserva da seleção é diferente de ser reserva do Milan. É mais simbólico e marcante. Depois de se tornarem grandes estrelas, jogadores como Zico, Romário, Ronaldo e outros nunca foram reservas habituais da seleção por motivos técnicos. Antes de isso acontecer, eles se retiraram. Se Ronaldo voltar à seleção, será para ser titular.

Dizem que, assim como andar de bicicleta, ninguém esquece como se joga futebol. Não é bem assim. Desaprendi a andar de bicicleta. Não se esquece como se joga futebol, mas o atleta pode ficar travado, e para sempre. Ele se esforça, mas não consegue. E não sabe por quê.

Estaria na hora de Ronaldinho, mesmo com 29 anos, reconhecer a decadência e se retirar do Milan e da seleção para ganhar ainda mais dinheiro nas Arábias? Não deve ser ainda esse momento.

Será que a reserva da seleção, por motivos técnicos, não será o ruído, o grito, que Ronaldinho precisava para tomar uma decisão e reagir para valer, como fez o paciente que relatei?

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A única coisa que Ronaldinho não deveria fazer é ver o tempo passar, aceitar passivamente a reserva e dizer que o importante é o grupo. Será triste vê-lo no banco.

Mensagens

Independentemente do problema de se jogar em La Paz, que é muito mais grave que no Equador, o vexame da Argentina foi mais uma constatação de que, diferentemente do Brasil, o goleiro e os defensores argentinos são fracos para jogar em uma grande seleção. Se estivessem jogando pelo Brasil, contra o Equador, provavelmente seria uma goleada.

Antigas e novas mensagens têm chegado para Dunga. Algumas, ele ignora. Uma é de que não há mais lugar para Gilberto Silva e que, repito, Felipe Melo poderá ser a melhor opção para substituí-lo. Não há lugar para os dois. Outra é de que a melhor exibição do Brasil, sob o comando de Dunga, foi contra Portugal, com Anderson no time. A terceira é de que Elano é um bom jogador, mas Daniel Alves, na posição de Elano, tem muito mais recursos técnicos.