O jornal O Globo mostrou, dias atrás, que, em Illinois, EUA, já existe uma máquina, com um programa de inteligência artificial, que analisa os jogos. É a máquina que assina o comentário.
Segundo a matéria, para a geringonça funcionar, é preciso lhe dizer qual será a partida. Aí, ela, automaticamente, coleta todos os dados que estão na mídia, antes e durante o jogo, analisa as informações e as traduz para a linguagem da informática. O vocabulário é baseado em frases, expressões e lugares-comuns repetidos na imprensa. O texto não tem erros gramaticais nem é influenciado por oscilações de humor.
Quem escreve e analisa melhor, o homem ou a máquina? Há controvérsias.
Todas as atividades possuem seus chavões e terminologias. Não é tão difícil para alguém, pelo menos por um tempo, se passar por um profissional de qualquer área. Ainda mais ser um comentarista de futebol, um esporte que todos se acham profundos entendedores, que não tem nada de exato e é repleto de figuras de estilo.
As explicações para as vitórias e derrotas costumam ser as mesmas, independentemente do jogo. A moda é dizer que alguém decidiu a partida, mesmo que não faça nada, a não ser empurrar uma bola para as redes. Quem dá um belo e decisivo passe é menos elogiado.
Exercer uma profissão sem ser um profissional da área existe em todas as atividades. Como não tenho diploma de jornalista, sinto-me, às vezes, fora do lugar, mesmo sendo apenas um colunista, um ex-atleta, além de não ser proibido por lei. Quando disserem que é proibido, como alguns querem, vou ser um torcedor sonhador.
De vez em quando, aparece um falso médico nos noticiários policiais. Eles aprendem os nomes dos remédios, das doenças, alguns diagnósticos e frases feitas, colocam um jaleco branco, uns óculos para parecer sérios e cultos e custam a ser descobertos. Já houve um até que se tornou chefe de um pronto-socorro, por méritos.
As pessoas, cada dia mais, são dependentes da máquina. Desconfio que nasci sem o gene da tecnologia. Não entendo as máquinas e não sei usá-las. Ainda bem que conto com ajuda. Apesar disso, reconheço a enorme importância que elas têm para a ciência, para o desenvolvimento pessoal, além de ser uma boa distração, desde que não se transforme em vício, o que é hoje muito comum.
A máquina faz o homem mais feliz? Penso que não. Ela também não tem nada a ver com a angústia existencial do homem.
Em uma cena do filme Zorba, o grego, Zorba, um homem rude, pergunta a seu patrão, um homem culto, sobre o que seus livros (hoje seria o Google) falam sobre a vida após a morte. Ele responde: "Os livros não têm resposta". Zorba retruca: "Então seus livros não servem para nada".
O problema principal não é o homem ser refém da máquina. Isso já é antigo, evidente, não tem volta e, muitas vezes, traz benefícios. O problema é a ânsia do ser humano em ser igual à máquina, incorporá-la, se identificar com ela. É o que ocorre quando alguém cria um personagem, se apaixona por ele, e os dois passam a ser a mesma pessoa. É o homem-máquina.
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