No futebol, é dada muita importância a coisas que têm pouca ou nenhuma importância. Nas copas do mundo, o Brasil ganhou e perdeu, jogou muito bem e muito mal, com diferentes estratégias, dentro e fora de campo.
Já está definido. Se o Brasil ganhar ou perder, o motivo principal será Dunga. Isso é dar uma exagerada importância a Dunga ou a qualquer outro treinador.
Da mesma forma, a Argentina não estava tão ruim nas Eliminatórias porque Maradona é um técnico debiloide. Nem, de repente, após a vitória sobre a Alemanha, ele passou a ser um estrategista, somente porque a Argentina mostrou um time organizado, disciplinado, com ótima marcação e privilegiando os contra-ataques. Parecia o Brasil.
"As coisas não precisam de você", diz a belíssima música de Marina Lima e Antônio Cícero. O futebol também não precisa tanto dos técnicos. Eles são importantes, mas há coisas muito mais decisivas.
No fracasso na Copa de 66 e na conquista de 2002, a seleção se concentrou em hotéis junto com a imprensa e os hóspedes. Na vitória em 70 e nas derrotas de 98 e 2006, o Brasil ficou em hotéis isolados. O tipo de concentração tem pouca importância.
Em todos os mundiais, que perdeu e que ganhou, havia um dia de folga na semana. Em 70, uns iam rezar, outros, conhecer a cidade, e alguns iam para a balada, como em 2006. Os jogadores de 70 não eram santos nem os de 2006 foram baderneiros.
Em 2002, não era raro encontrar um jogador no elevador do hotel, mesmo eles ficando em andares reservados. Como venceu, foi elogiada a proximidade dos jogadores com a imprensa e os hóspedes.
A concentração em Weggis, na Suíça, foi apontada como uma das principais causas do fracasso, em 2006. O hotel era fechado. Os treinos ficavam lotados de torcedores, como ocorre em quase todas as copas. É raro proibir a entrada de público. Em 70, como ocorreu em 2006, de vez em quando, um torcedor invadia o gramado, durante o treino.
O Brasil perdeu a Copa de 2006 porque os craques jogaram mal, alguns estavam fora de forma física (com ou sem balada no dia de folga), houve erros táticos, o time ficou prepotente e iludido com o oba-oba antes do Mundial, a França tinha mais conjunto e, do outro lado, estava Zidane. O restante é perfumaria.
A seleção será superprotegida na África do Sul. Dunga mandou construir um muro de vidro em frente ao hotel. Quem está de fora não vê dentro, e quem está de dentro não vê o lado de fora. Espero que não haja cartilha nem obrigação dos jogadores cantarem o hino nacional, todos os dias.
Endosso a preocupação e as críticas de José Trajano à CBF, que não divulgou, até terminar esta coluna, as datas em que os jogadores iniciarão os treinos e que chegarão a Johannesburgo. Isso é essencial para o trabalho logístico da imprensa de todo o mundo. Se a CBF não tem ainda as datas, é por incompetência. A Copa está próxima.
Pelos antecedentes, tenho o direito de especular que a CBF quer dificultar o trabalho da imprensa, e que alguns privilegiados já têm a programação. A CBF tem muitos parceiros.
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