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Nas últimas semanas, impressionou-me o espetacular noticiário sobre as contratações de Luxemburgo e Muricy. Sei que os técnicos são supervalorizados, mas não imaginava tanto. Nem o enterro de Michael Jackson foi tão falado. As pessoas ficaram mais bem informadas sobre as contratações do que sobre a nova gripe e os escândalos do Senado.

Parecia que os dois técnicos eram os Pelés do futebol, e não somente os Pelés dos treinadores, o que também não são.

Parecia um fato extraordinário, como se nunca um treinador de ponta tivesse sido contratado por um grande clube nem mudado para um grande rival.

A contratação de Muricy, por demorar mais tempo, passando antes por um flerte com o Santos, foi um grande espetáculo. Tudo narrado e comentado em todos os detalhes, com capítulos surpreendentes e emocionantes. Como toda novela, teve heróis e vilões.

Um dos vilões foi o procurador de Muricy, que teria atrapalhado as negociações, como se o técnico não fosse maior de idade, não soubesse das conversas nem desse a palavra final.

Os heróis foram o presidente do Palmeiras e Muricy. Contam que o encontro dos dois foi emocionante. Muricy teria ficado empolgado com os projetos do clube.

A moda agora é todo técnico, ao ser contratado, dizer que fi-cou impressionado com o projeto. Tudo conversa fiada. Ne­­nhum projeto, mesmo quando existe, se sustenta no futebol. Tu­­do vai depender dos resultados e das críticas da imprensa e da torcida.

Na apresentação de Muricy, o técnico falou de sua história afetiva e familiar com o Palmeiras. Nem precisava. Muricy é respeitado por seu profissionalismo. Enquanto Luxemburgo tem sido bastante criticado, pelo que faz e até pelo que não faz, Muricy é tratado como um purista, que ninguém é.

Pelo que entendi de uma en­­trevista de Beluzzo a um canal de tevê, Muricy vai ganhar, mais ou menos, o que recebia Luxem­burgo no Palmeiras. A diferença seria o preço da comissão técnica de Luxemburgo, que é muito maior.

Se for assim, esqueçam minha coluna anterior, quando escrevi que, enfim, apareceu um presidente lúcido, para não pagar absurdo salário a um treinador de ponta, incompatível com a re­­ceita de um clube brasileiro.

Por causa da supervalorização dos técnicos, os clubes justificam qualquer gasto para contratá-los. Pelo mesmo motivo, se acham no di­reito de dispensar e de culpar os treinadores pelas derrotas.

Comentaristas contribuem para essa supervalorização ao co­­locar a atuação do técnico co­­mo referência para explicar tudo o que acontece em um jogo, co­­mo se o futebol fosse quase so­­mente uma disputa programada de estratégias, de causas e efeitos, o que está longe de ser. O fu­­tebol, como a vida, tem muitas perguntas e poucas respostas.

Excelentes treinadores, como Muricy, merecem ganhar muito bem, pela responsabilidade, in­­segurança e importância do cargo. Mas, há limites, que não po­­dem ser impostos por decretos. O técnico tem também o direito de pedir o que quiser. O erro é dos clubes em pagar. Há sempre uma Ti­­memania para empurrar as dí­­vidas para debaixo do tapete.

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