É obvio que o Brasil pode ganhar a Copa sendo o grande favorito e sem ter grandes dúvidas e problemas antes da competição. Não sou supersticioso para achar que, para vencer, é necessário ser bastante criticado antes do Mundial, como aconteceu outras vezes.

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Em uma coluna anterior, chamei a atenção que as grandes seleções da história foram consagradas durante a Copa, na adversidade e na solução dos problemas. O Brasil tem vários excepcionais jogadores, mas não temos certeza se terá um grande time nessa Copa.

O Brasil não é também muito superior a algumas seleções. Se perder, não será zebra nem por causa do "sapato alto" dos jogadores, e sim pela qualidade dos adversários e pelas armadilhas dos jogos mata-mata. Não está também tudo certo, maravilhoso, como diz a radiante e otimista turma do oba-oba ou os que ufanam quando o time ganha e só vêm erros quando perde. A audiência é que tem formado a opinião.

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O time brasileiro tem problemas que precisam ser diminuídos. Como os grandes espaços deixados na defesa e a ausência de uma marcação por pressão, pelo menos em parte do jogo.

Estou realista, e não pessimista. Além disso, na vida nada está pronto, seguro e definido. Há sempre dúvidas e incertezas.

Auto-suficiência

Parreira diz sempre que o Brasil tem de impor o seu estilo e o adversário é que precisa correr atrás. Para isso, ele cita sempre um "sábio" da Europa, que não consigo guardar um nome. Deve ser inglês. Isso costuma ser verdade, mas nem sempre é assim, mesmo para um time que tem mais craques. A seleção tem de se preparar para não ser surpreendida. Em alguns momentos, é necessário fazer pequenas mudanças na maneira de jogar, de acordo com o adversário.

A auto-suficiência está perto da prepotência. Um técnico não pode ser um inventor, um professor Pardal, delirar em cima de uma prancheta nem ser tão convicto e tão seguro dos seus conceitos e condutas.

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Dois craques

Ronaldinho Gaúcho e Kaká atuam de maneiras diferentes nos seus clubes. No Barcelona, Ronaldinho joga também mais pela esquerda, porém mais à frente. Kaká atua no Milan mais pelo meio, entre o meio–de-campo e ataque. Na seleção, Kaká joga mais pela direita.

Apesar de atuar mais perto do gol e dos dois atacantes, para o Kaká é melhor a maneira que atua na seleção, pela direita. Por ser muito veloz e ter um drible mais longo, ele precisa de muitos espaços. No Milan os espaços são menores, pois há sempre um ou dois volantes muito próximos.

Para o Ronaldinho, é melhor seu modo de atuar no Barcelona. O time desarma com freqüência no campo adversário e toca rápido para ele, que está com freqüência livre pela esquerda, perto da área e diante de apenas um marcador. Ele tem uma ampla visão à sua frente.

Na seleção, Ronaldinho inicia as jogadas mais atrás, muitas vezes no campo do Brasil, com vários adversários à sua frente. O caminho é longo e difícil para ele chegar perto da área.

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Kaká e Ronaldinho se completam nas suas características. E ainda são disciplinados e humildes. Mais que um gestor de talentos como Parreira se identifica nas suas entrevistas, ele é um técnico de sorte por ter na sua equipe dois jogadores espetaculares.