Nesta semana, Clóvis Rossi lembrou de duas imagens deprimentes da política brasileira. Na primeira, Lula abraça Fernando Collor, que, anos atrás, pagou a uma mulher para dizer, na televisão, que Lula, seu adversário, quis abortar a filha que tiveram. Na segunda, Collor, que faz parte hoje da tropa de choque de Sarney, é o mesmo que chamou até de ladrão o presidente do Senado.
Esse e tantos outros fatos lamentáveis, de gravidades variáveis, acontecem em toda sociedade, e também no futebol. Pelé já criticou e abraçou, afetuosamente, Ricardo Teixeira várias vezes.
As opiniões mudam com frequência. Ricardo Teixeira disse que não haveria dinheiro público para construção de estádios para a Copa de 2014. Agora, acha isso inevitável. Vão dizer que financiamento do BNDES não é dinheiro público. Como não é? Já imaginou o que vai ocorrer perto da Copa, com obras atrasadas? Por causa da repercussão negativa, o governo, via BNDES, quer agora diminuir os custos dos estádios. Pelo menos, isso.
A coerência é uma difícil e rara qualidade. Além disso, muitas pessoas são cobradas pelo que fizeram e disseram 30, 40 anos atrás. Muitas vezes, é difícil separar a mudança de opinião, que pode ser uma virtude, uma evolução, da mudança por outros interesses, às vezes, indecorosos.
Sei que não é fácil ser um observador neutro. Quando analisamos um fato, com frequência, mesmo sem perceber, utilizamos de pré-conceitos e, às vezes, de preconceitos que nem imaginamos ter.
O ser humano vive dividido entre o desejo e a ética. Uma disputa esportiva, por carregar muita emoção e uma obsessiva busca pela glória e pelo dinheiro, não é um bom lugar para se ver condutas educadas e éticas. Se não houvesse fiscalização e punição, haveria muito mais coisas graves, antiéticas e ilegais, como o doping no atletismo brasileiro.
Freud dizia que o ser humano é muito mais imoral que se imagina, pois deseja, mesmo se não fizer, muitas coisas perversas, e muito mais moral que se pensa, por ter muitos sentimentos de culpa. Isso mudou. O sentimento de culpa está fora de moda.
Choque de gerações
Fernandão disse que um dos motivos de ele ter ido para o Goiás, e não para o Inter, um clube de mais prestígio, foi não ter sido bem tratado pelo time gaúcho, clube em que teve ótima convivência e longa e brilhante passagem. O jovem Fernandão queria ter uma conversa afetuosa com os dirigentes. Esses pediram que ele mandasse uma proposta por e-mail. Fernandão não gostou. Os dirigentes estranharam. Foi um choque invertido de gerações.
A moda agora é se comunicar por e-mails, blogs e twitters. Segundo José Saramago, que possui um blog, o twitter, com poucas palavras, é mais uma evidência de que o ser humano caminha para o grunhido.
Coerência
Para tentar ser coerente, em vez de escrever na coluna anterior que Muricy se diferencia dos outros técnicos por fazer bem o óbvio, o essencial, deveria ter escrito que ele se diferencia de outros treinadores. Ele não é o melhor de todos. É um dos melhores.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Deixe sua opinião