O torcedor que irá hoje ao Morumbi não será o que vai normalmente ao estádio para torcer por seu clube, o que vai cedo para o campo em desconfortáveis conduções, o que não tem coragem de levar a família por causa da violência, o que leva o dinheiro certo para comer um sanduíche de mortadela, nem o que dança e canta durante a partida.

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O torcedor que irá hoje ao Morumbi é o que não tem hábito ou nunca foi a um estádio de futebol, o que vai levar a família, o que irá de táxi com medo de quebrarem seu carro, o que vai comer no estádio um sanduíche especial e o que vai cantar músicas de exaltação ao país. É um torcedor de TV, com o perfil de torcedor de vôlei e que vai trocar de lugar com o torcedor de campo.

Muitos dos torcedores de hoje são políticos, celebridades, convidados das televisões, da CBF e do governo. Alguns nunca foram a um campo. Terão à sua disposição muita mordomia. Enquanto isso, craques do passado e da seleção não deverão ser convidados. Repito, se fosse, não iria. Contra o Equador, Amarildo, o possesso da Copa de 62, foi barrado na entrada do Maracanã.

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Certamente, alguns torcedores habituais e pobres, apaixonados pelo futebol, farão um grande sacrifício para comprar os caros ingressos com a esperança de ver os craques que eles conhecem apenas da televisão.

Contra o Peru, o Brasil só jogou bem parte do primeiro tempo. Como Gilberto Silva e Mineiro se limitam a proteger os zagueiros e Kaká e Robinho atuam do meio para a frente, Ronaldinho recuou para ser o armador do time, tentando tocar a bola e cadenciar o jogo. Alguém precisa fazer isso e ele é o único que tem condições de exercer bem essa função, mas continua muito lento. Esta também não é a sua melhor posição, pois fica muito longe do gol.

A maior dificuldade do time brasileiro, principalmente quando joga fora de casa, que ocorre há muito tempo e não apenas com Dunga, não está na falta de vontade dos jogadores, no desenho tático, na escalação e na falta de tempo para treinar.

O maior problema está no fato de os zagueiros, laterais e volantes jogarem e marcarem muito atrás, o que obriga os três meias a recuarem e iniciarem as jogadas no próprio campo, muito longe da outra área. Em alguns momentos do jogo contra o Peru, Ronaldinho parecia um volante. Ele tem que ser o meia de ligação.

Nessa postura da equipe, os laterais percorrem também um caminho mais longo para chegarem à frente, ainda mais quando são bem marcados. Maicon e Gilberto são também laterais; não são alas.

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Se o Brasil marcasse e tomasse a bola mais na frente, pelo menos em parte do jogo, a equipe chegaria ao ataque com mais jogadores e os três meias estariam mais vezes e mais perto do centroavante e do gol. Mas os técnicos morrem de medo e não sabem fazer uma boa marcação por pressão.

Por marcar muito atrás e ter mais jogadores para defender do que para atacar, a defesa brasileira continua mais eficiente que o ataque, mesmo com tantos craques.

tostaocoluna@hotmail.com