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No domingo, estava em Barcelona e assisti no Estádio Nou Camp, que não conhecia, à vitória do time catalão sobre o Levante por 1 a 0. De metrô, cheguei rápido, cedo e desci próximo ao campo. Aos poucos o estádio ficou lotado. Havia muitas pessoas de todos os tipos: crianças, idosos, jovens, homens, mulheres.

Comportei-me como um torcedor, o que não posso fazer no Brasil, na minha função de comentarista. Coloquei no pescoço um cachecol azul e grená das cores do Barcelona, e aplaudi e vaiei. Deu até vontade de chamar o técnico Rijkaard de burro por colocar novamente o medíocre zagueiro Oleguer de lateral.

Sou torcedor do Barcelona, não somente pelo Ronaldinho, mas também pelo Deco, Messi, Eto’o, Xavi, Iniesta, Puyol, e porque o clube se confunde com essa sedutora, belíssima e avançada cidade, terra de muitos geniais visionários, como Gaudí e Miró, que transcenderam à realidade e revolucionaram a arte.

Sou torcedor do Barcelona porque foi o único time que me fascinou nos últimos anos. O meu encanto não foi pelo título da Liga dos Campeões e pelo bicampeonato espanhol, e sim pela maneira ousada e leve de jogar unindo o coletivo com o individual. O Barcelona e Ronaldinho mostraram ao mundo que é possível ser eficiente e jogar bonito.

Por causa de seus problemas, pela dificuldade de todo time, com qualquer estilo, se manter no topo por muitos anos, e pela dura marcação dos adversários que cada dia mais impedem os times e jogadores habilidosos de brilharem, o Barcelona caiu de produção. Mesmo assim, como torcedor e analista, espero que o time se recupere.

Messi é o novo xodó da torcida. No domingo, um diário esportivo vendia o jornal por um euro e o leitor ainda ganhava um dvd do jogo em que o argentino fez um gol espetacular, a la Maradona na Copa de 86 contra a Inglaterra.

Já a relação atual da torcida com Ronaldinho tem sido mais distante e mais fria. Depois de ver o jogador atuar durante anos no nível dos maiores craques da história do futebol mundial, o torcedor não aceita mais vê-lo apenas atuar bem. Ronaldinho reclama dessa cobrança. Parece uma briga passageira de amor. Será difícil romper esse consistente vínculo entre o jogador, o clube e a cidade. O retrato do Ronaldinho está em todos os lugares.

Como ocorre na atual sociedade de consumo e de espetáculo, em que nada satisfaz, em que as coisas, pessoas, sentimentos, valores e prazeres são descartáveis e trocadas rapidamente, no futebol, os conceitos são também cada vez mais sobre o último jogo, a última semana, mês ou, no máximo, o último ano.

Após a partida contra o Levante, voltei de ônibus, lotado. Como o jogo terminou às 21 ho-ras (lá não há o horário da Globo), ainda deu tempo para saborear umas tapas (tira-gostos) e tomar um bom vinho espanhol. Foi um inesquecível dia de torcedor.

Decisões

Hoje é dia de grandes comemorações e de frustrações. O melhor momento do esporte para quem compete e para o torcedor é o da vitória. O pior é o da derrota. O restante é supérfluo. Mas, como crítico, preciso cobrar bons espetáculos e não apenas elogiar os vencedores e criticar os perdedores. Quem ganha também erra e quem perde também acerta.

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