• Carregando...

Paulo Bonamigo se mantém sério e compenetrado durante toda a conversa. Só se permite um discreto sorriso quando o assunto é a surpreendente campanha de Portugal do conterrâneo Luiz Felipe Scolari na Copa do Mundo. O olho desse gaúcho de Ijuí, de 45 anos, brilha enquanto ele exalta o futebol coletivo, de muita marcação e velocidade nos contra-ataques dos patrícios.

Esse é o espírito que o treinador tenta reimplementar no Coritiba. Campeão paranaense invicto em 2003 e responsável por classificar o time à Libertadores de 2004 em sua primeira passagem pelo Alto da Glória, Bonamigo repudia o futebol burocrático, de muito nome e pouco brilho da seleção brasileira.

Na tentativa de recolocar o Coxa na Primeira Divisão, o técnico trabalha contra o tempo. Desde maio no clube, Bonamigo comandou o Alviverde em cinco partidas na Série B. Foram duas vitórias, duas derrotas e um empate no período (46% de aproveitamento). Porém, só agora, com a paralisação para a disputa do Mundial, é que o treinador conseguiu dar uma cara ao time.

Unanimidade entre os dirigentes, o técnico começa a escrever a partir de agora o segundo capítulo de sua história no Coritiba. O desfecho da trama, contudo, só se saberá no fim de novembro, com o término da Segunda Divisão. Até lá, muito trabalho – e a bênção de Nossa Senhora, simbolizada pela imagem colocada recentemente no CT da Graciosa.

Qual a avaliação desse período de treinamentos durante a Copa?Esse tempo de treinamento foi muito proveitoso. Conseguimos unir mais a equipe, colocar um pouco da minha metodologia de trabalho, em termos de posse de bola, poder de marcação e velocidade pelos lados do campo. Acredito que o time entre muito forte nessa segunda parte da competição.

Começa um novo campeonato a partir de agora, já que os times tiveram tempo para treinar e fizeram contratações?Acho que o nível técnico vai ser superior. Com as equipes mais entrosadas, a tendência é que os jogos sejam melhores.

Em 2002, na sua primeira passagem pelo Coritiba, você começou a montar o time que seria campeão paranaense no ano seguinte e se classificaria à Libertadores justamente na parada para a Copa da Coréia e do Japão. Um bom indício de que 2006 será melhor do que 2005?Aquele momento foi importante por causa do laboratório que fizemos para montar o time. Tivemos tempo para aproveitar os jogadores que estavam surgindo no próprio clube. A situação hoje é um pouco diferente. Estamos numa escala inferior e a pressão para a gente subir é muito grande. A responsabilidade de se fazer uma equipe vencedora agora é maior.

Qual a diferença entre dirigir o Coritiba brigando pelas primeiras colocações do Brasileiro e agora na Segunda Divisão?É normal. O trabalho é o mesmo. Esse grupo tem potencial. Conseguiremos fazer um time forte, apesar do trauma do rebaixamento. Agora é ter competência para saber executar.

Já dá para fazer uma avaliação do Luís Paulo, Ney Santos, Paulo Miranda, Guilherme e Cristian, os jogadores que chegaram agora?Deram qualidade. A correção de rumo é normal. Quando o nível técnico melhora, todos os jogadores crescem.

Em que você mudou nesses poucos mais de dois anos, entre uma passagem e outra pelo Couto Pereira?Estou com certeza mais maduro. Mais experimentado na profissão.

Que pedido você faz ao torcedor?Que ele continue firme conosco, nos apoiando. Sem a força da torcida o caminho se torna mais difícil. Um clube da tradição do Coritiba não pode ficar numa divisão inferior. E aqui todos estamos conscientes disso.

Gostou da Copa do Mundo?Muito. Ficou exposto o futebol moderno. Prevaleceu a escola européia e essa foi a maior dificuldade da seleção brasileira. Não conseguimos chegar, mas que a Copa sirva de alguma maneira de lição.

Parece que a seleção te decepcionou.Para quem trabalha no futebol fica difícil falar, às vezes você é mal interpretado... Mas como o próprio Parreira comentou, deveríamos ter feito amistosos com equipes mais qualificadas. O futebol brasileiro tecnicamente não desabrochou.

E Portugal te surpreendeu?Não, absolutamente. Portugal estava invicto nas Eliminatórias. Tem um comandante há quatro anos, com os principais jogadores atuando nas ligas mais difíceis do mundo. Pelo trabalho do Felipão, sabia que a seleção portuguesa iria chegar.

Quem foi o craque da Copa?Acho que não teve um craque que desequilibrou, mas ótimos jogadores que fizeram grandes partidas. O Cannavaro e o Pirlo na Itália, o Terry na Inglaterra, o Henry na França, o Klose e o Podolski na Alemanha... Mas se tivesse que escolher um, seria o Zidane. O que ele fez com o Brasil foi algo diferenciado.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]