Nem Fórmula 1, nem corrida de cavalo, nem golfe, nem mesmo o futebol do Al Jazeera, time comandado pelo brasileiro Abel Braga. Os Emirados Árabes Unidos dessa vez investiram os petrodólares no jiu-jitsu, a arte marcial brasileira mais exportada da atualidade (mais até mesmo que a capoeira), e que em Abu Dhabi se tornou profissão altamente rentável. Tanto para os professores quanto para os competidores, que a partir deste sábado já podem se considerar oficialmente profissionais do esporte. No imponente ginásio ADCC (Abu Dhabi Combat Club), com a presença de representantes da família real e toda a formalidade e luxo que um evento "abu dhabiano" merece, foi realizado o Asian Super Cup, um torneio de jiu-jitsu pretensioso. No melhor dos sentidos. Pretensioso em se tornar a Meca mundial das competições profissionais, com premiações, digamos, bem mais interessantes que uma medalha para o campeão.
Atraídos pelos 40 mil dólares, lutadores de 25 países se enfrentaram em cinco categorias de peso, com um formato bastante original: faixas roxas, marrons e pretas lutavam entre si, em duelos de apenas 6 minutos, o que resultou em grandes revelações, gratas surpresas, e bastante dinamismo, com uma incrível média de uma finalização a cada 3 lutas.
Jiu-jitsu no Oriente Médio? Manda trazer do Brasil
O brazilian jiu-jitsu, ou arte suave, ou simplesmente jiu-jitsu chegou ao oriente médio discretamente no início da década de 90, quando Abu Dhabi virou sinônimo de luta agarrada, com o mundialmente famoso e rico evento ADCC, mas as lutas eram sem quimono. O torneio reunia competidores de jiu-jitsu, judô, wrestling e sambo, e a partir dessa mistura foi criada a modalidade "grappling", que luta para se tornar olímpica. Alguns faixas pretas começaram ali uma aproximação com os líderes dos Emirados Árabes, mas foi o Xeque Tahnoon Bin Zayed o primeiro grande responsável pela introdução das lutas no país. Ele criou o concorrido evento ADCC, e contagiou todo seu povo com a paixão incondicional pelas lutas.
Há 7 anos, Carlão Santos, faixa-preta da mundialmente respeitada equipe Brazilian Top Team, recebeu um convite para se mudar para Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes, e dar aulas como instrutor de jiu-jitsu, com o uso do quimono. "Foi um desafio explicar determinados golpes e posições num país com uma cultura tão rígida e moral, além da religião muçulmana extremamente rigorosa", desabafa Carlão. Um dos alunos do brasileiro é o filho de Mohammed Bin Zayed Nahyan, o Príncipe da Coroa de Abu Dhabi.
É aí que a história "REAL"mente começa. Em 3 anos, o introvertido e reservado garoto se transformou num adolescente confiante, expansivo, mais ágil, habilidoso e fascinado pela técnica brasileira. O Xeque acompanhou toda a evolução do filho e reconheceu no jiu-jitsu uma importante ferramenta de desenvolvimento tanto motor quanto intelectual, e mandou incluir o esporte nas escolas do país. O jiu-jitsu brasileiro se tornou uma atividade obrigatória no currículo escolar dos Emirados Árabes Unidos.
Assim como tudo em Abu Dhabi, o crescimento da popularidade e do investimento no esporte também foi acelerado e grandioso. O jiu-jitsu já é uma das modalidades incluídas no Campeonato Ramadã de Abu Dhabi e 20 faixas-pretas foram importados do Brasil (incluindo uma professora) para dar conta da demanda de alunos nas escolas e até na polícia e no Exército. "O Governo do Estado trabalha seriamente para fazer da região a capital mundial do jiu-jitsu", revela Carlão sem economizar nas palavras nem nos prêmios, já adiantando que em abril de 2009 vai acontecer o primeiro Mundial profissional também em Abu Dhabi, e as cifras giram em torno de 5 mil dólares para o campeão do mundo.
O Brasil ainda reina
No Asian Super Cup, que serviu como um excelente teste para o Mundial de abril, o Brasil levou a melhor em todas as cinco categorias principais. Mas além da reluzente e artisticamente trabalhada medalha, o campeão foi recompensado com 2.800 dólares por 2 dias de trabalho (eliminatórias e finais). Rafael Mendes, representante da academia Atos e vencedor da Seletiva Sul-americana, foi o número um entre os mais leves. Na divisão de cima, até 80 kg, o campeão mundial Sérgio Moraes confirmou o favoritismo e fechou o peso com o companheiro da equipe Alliance Michel Langhi. O faixa marrom da Sul Jiu-jitsu Edmilson Conceição, irmão da ex-judoca e lutadora-olímpica Rosângela Conceição faturou a categoria até 90 kg, e Charles Cachoeira venceu Gabriel Vella na final acima de 90 kg. A revanche veio em seguida, na categoria absoluto, com Vella, que pesa 115kg, superando a opulência de Cachoeira, o mais alto e mais pesado lutador do evento: 125kg e 1,95m.
O futuro dos lutadores do Oriente Médio é promissor, com os Emirados e a Jordânia subindo no pódio mais vezes entre os menos graduados. Como tudo em Abu Dhabi é no superlativo, quem duvida que até abril o número de campeões árabes não triplique?
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