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Nos últimos dias, o caso de doping de Rebeca Gusmão e a acusação de fraude de um dos exames antidoping realizado pela nadadora brasileira têm sido assuntos constantes no país. Mas o uso de anabolizantes não é novidade nas piscinas. Na busca obsessiva por medalhas, outras nadadoras mundo afora não mediram esforços para conseguirem o que queriam. As histórias impressionantes da irlandesa Michelle Smith, que fraudou seu exame de urina com bebida alcoólica, e de nadadoras da Alemanha Oriental que assumiram injetar anabolizantes desde os 13 anos, comprovam isso.

Confira a seleção dos casos mais impressionantes de doping na natação feminina mundial.

Michelle Smith: álcool na urina

A irlandesa Michelle Smith, que assombrou o mundo ao conquistar três ouros e um bronze em Atlanta-1996, foi um dos casos mais estranhos da história do doping na natação feminina. Ranqueada como 90ª do mundo nos 400m medley, Smith havia sido 17ª colocada em Barcelona, quatro anos antes, nos 200m costas, e não figurava sequer entre as candidatas a participar da final olímpica em Atlanta. O treinamento com seu técnico e marido, o holandês Erik de Bruin, arremessador de disco suspenso por quatro anos por doping, a levou para a 17ª colocação no ranking da Fina. Em 1996, Michelle Smith conquistou diversos títulos no Europeu de natação, baixando seu tempo em até 17 segundos.

Após as Olimpíadas de 1996, a Fina mostrou-se preocupada com o fato de a nadadora estar constantemente indisponível para testes antidoping fora da época de competição desde 1995. Finalmente, em 1998, dois agentes da Fina foram à casa de Smith e Bruin e coletaram uma amostra. Como usava um suéter muito grosso, não foi possível para os agentes terem certeza de como a coleta foi feita. A amostra foi enviada a Barcelona, para análise, e o resultado foi estarrecedor: a quantidade de álcool contida na urina da atleta seria letal se consumida por qualquer ser humano. Michelle Smith foi considerada culpada por adulterar as amostras, e a Fina suspendeu a nadadora por quatro anos.

Alemanha Oriental: indústria de esteróides dos anos 70

A "fábrica de recordes" da extinta Alemanha Oriental ficou famosa em todo o mundo quando os casos das nadadoras Kornelia Ender, Barbara Krause e Carola Nitschke vieram a público, nos anos 80. A indústria dos esteróides anabolizantes formara verdadeiras máquinas de nadar. Kornelia, que conquistou oito medalhas nas Olimpíadas de 1972 e 1976, revelou receber injeções desde os 13 anos. Em 1976, Ender conquistou quatro ouros, com recordes mundiais em todas as provas, sendo três delas individuais, e duas sendo disputadas em um intervalo de apenas 27 minutos.

Krause, detentora de três medalhas de ouro olímpicas e oito recordes mundiais, foi retirada da delegação alemã-oriental dos Jogos de 1976 pelos médicos, que teriam calculado mal a quantidade de esteróides injetados. Temendo um flagrante nos exames antidoping, eles forçaram a atleta a abandonar os Jogos.

Nitschke também tinha 13 anos quando começou a receber injeções de substâncias proibidas, entre elas o Oral-Turinabol e a testosterona. Em 1998, ela foi a primeira atleta a devolver as medalhas que conquistara. Além disso, pediu que seu nome fosse retirado definitivamente de todos os livros de recordes.

Doping vira "moda" na China

Nas Olimpíadas de Barcelona-1992, as chinesas ganharam quatro medalhas de ouro na natação. Nenhuma chinesa havia sequer chegado a uma final olímpica até então. No Mundial de 1994, disputado em Roma, as chinesas ganharam 12 das 16 medalhas de ouro em disputa. O resultado levantou suspeitas de uso de substâncias proibidas.

No Jogos Asiáticos de 1994, 11 atletas chinesas que conquistaram medalhas no Mundial de 1994 foram flagradas por uso de dihidrotestosterona. A descoberta dizimou a equipe chinesa, que conquistou apenas um ouro em Atlanta-1996. Dois anos mais tarde, a chinesa Yuan Yuan foi flagrada com ampolas de hormônio de crescimento em sua bagagem durante o Mundial de Perth, na Austrália. Quatro outras atletas também falharam nos controles de doping daquela competição.

Desde 1990, mais de 40 nadadoras chinesas foram flagradas em exames antidoping, mais que o triplo de qualquer outro país. A repercussão mundial fez com que as autoridades esportivas chinesas prometessem endurecer o controle sobre seus atletas. Antes das Olimpíadas de Sydney, em 2000, quatro nadadoras chinesas foram retiradas da delegação por suspeita de doping.

Laboratório compactuando com doping na Alemanha

As seis medalhas de ouro conquistadas em Seul-1988 e a surpreendente aposentadoria um ano depois não deixam dúvidas de que a alemã Kristin Otto, uma das maiores nadadoras da história, e a mulher que mais medalhas conquistou em uma edição dos Jogos Olímpicos, tinha algo a temer. Otto, nascida na antiga Alemanha Oriental, conquistou 20 medalhas de ouro, três de prata e uma de bronze entre 1982 e 1989 em eventos mundiais, europeus e nacionais.

Documentos descobertos após a queda do Muro de Berlim, em 1989, provam que diversos nadadores da Alemanha Oriental tiveram testes positivos para elevados índices de testosterona, muito acima do permitido pela Wada. As análises dos documentos apontam para o laboratório alemão-oriental Kreischa, que apesar de ter sido aprovado pelo COI passou quase toda sua existência garantindo que nenhum atleta da Alemanha Oriental seria flagrado em qualquer teste antidoping fora do país. O nome de Kristin Otto estava entre os atletas assistidos pelo laboratório, segundo documentos datados de 1994.

Hoje em dia, Kristin Otto é uma bem-sucedida apresentadora esportiva na Alemanha e se recusa terminantemente a dar depoimentos sobre o doping no esporte, e também a participar de qualquer campanha antidrogas.

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